Entre Balestrand e Valhalla

Quando decidimos explorar o Sognefjorden, pensámos fixar-nos em Flåm, mas duas palavrinhas num imeile ("Sorry. Full") obrigaram-nos a alterar os planos. Já nem sei bem como nem porquê, resolvemos atravessar o fiorde para norte, equacionámos a proximidade ao Jostedalbreen, as ligações a Vik e Bergen e optámos por Balestrand.



Balestrand é uma terra pequena, à beira do Sognefjorden, encaixada entre montanhas, com glaciares ao fundo e florestas a perder de vista. O skog é uma instituição local, com percursos mais ou menos bem organizados para caminhadas (peçam informações no posto de turismo, mas comprem o mapa colorido, não vão na treta da fotocópia em pb, que nos fez andar em círculos durante horas -- bom, sempre aproveitei para colher framboesas).



A vila em si tem um porto pequeno, com uma magnífica vista sobre o fiorde, uma igreja anglicana dedicada a Santo Olavo, construída em madeira, nos finais do século XIX, ao estilo norueguês (Stavkyrkje), um hotel enorme, também de madeira, de estilo suíço, que parece tirado de um filme dos anos 20, um Aquário, três restaurantes (que só servem até às 21h -- um deles funciona, depois dessa hora, como bar), um supermercado, uma ou duas lojas para turistas, mais um ou dois hotéis menos estrelados, uma escola, um edifício moderno onde funciona a câmara municipal e o posto de polícia, e pouco mais, que nós víssemos.
De resto, vivendas de madeira, com os seus jardinzinhos, muito bem cuidados, muito floridos (no Verão, pelo menos). Consta que Balestrand, devido à sua situação geográfica privilegiada, é, de há muito, um pólo de atracção e inspiração para artistas e, actualmente, também para turistas, mas mantém-se uma terrinha sossegada.



O hotel grande tem uns jardins à beira da água, com uma vista fabulosa, onde se dão belíssimos passeios ao serão, desde que se ignore o aviso "For guests only". É claro que não íamos delapidar os nossos eurinhos portugueses nas diárias brutais do Kvikne's Hotel: as pousadas de juventude (Vandrerhjem) revelaram-se, na Noruega como na Finlândia, uma excelente opção (relação qualidade/preço, asseio, sossego, acessibilidade) -- agradeço o conselho à Fabienne e à Karen. A propósito, se a opção vos agradar, não se esqueçam de tirar, em Portugal, o cartão de alberguista, que sempre dá mais uns descontos nas diárias. E digam lá se não ficámos bem instaladas? A frente do edifício pertence ao hotel Kringsjå, a pousada fica na parte mais recuada, à esquerda (reparem no pormenor da varanda individual para cada quarto, com vista para o fiorde...):



Os passeios ao serão, em Balestrand, são memoráveis: em Agosto, o pôr-do-sol parece interminável e prolonga-se numa luminosidade fantasmagórica, numa neblina de um azul indescritível, que deixa imaginar velhos drakkars a velejarem para Valhalla. Às onze da noite, era possível andar na rua sem iluminação pública e até ler e escrever!
E não vos falo do meu cantinho favorito: uma rocha de onde se tem uma vista absolutamente feérica, onde se ouve o bater lento da água, sem ondas nem marés, onde a água é muito verde e muito límpida, onde as algas trepam pelas rochas até à superfície, como pequenas florestas aquáticas, e ficam a boiar, na linha de água e na minha memória.

Fjorden og skogen

O maior fascínio da Noruega está, inegavelmente, na beleza natural.
Os fiordes aparentam ser rios, de caudal variável, que serpenteiam entre montanhas de granito e florestas. Na verdade, são sulcos escavados, ao longo dos tempos, pelo degelo dos glaciares (que vai aumentando progressivamente, com o aquecimento global). O mais espantoso é que a altura impressionante que as montanhas atingem acima do nível da água é idêntica à profundidade submersa!



Com tantas montanhas e glaciares, a Noruega tem a costa toda ela recortada por fiordes. A escolha é variada, mas, para quem não conseguir decidir-se, há sempre a possibilidade de um cruzeiro costa acima, de Oslo ao Cabo Norte. Esta alternativa não nos seduziu, por um lado, pela ideia de ficarmos presas numa embarcação durante mais de uma semana, numa zona de clima muito instável, e, por outro lado, pela enormidade de euros que essa opção envolveria. Assim, a escolha recaiu no Sognefjorden, o maior fiorde do mundo (204 km de comprimento e 1308 m de profundidade) e em alguns dos seus afluentes (Aurlandsfjorden, Esefjorden, Færlandsfjorden...), o que nos permitiu múltiplos passeios deliciosos, por água e por terra.



Sediadas em Balestrand, demos um pulinho ao Supphellebreen e ao Bøyabreen, dois braços do Jostedalbreen, o maior glaciar da Europa continental (487 km2). Impressionante, toda aquela quantidade de gelo azul (percebi, finalmente, o significado de "azul glaciar"), branco e cinzento (quando sujo pelos sedimentos arrastados), que vai escorrendo, pingando, devagar ou, pontualmente, derrocando em avalanches (como uma, pequena, a que tivemos o privilégio de assistir), aumentando, pouco a pouco, o caudal do fiorde. Aconselho, vivamente, uma visita ao Museu do Glaciar, didáctico e interactivo.



Água a escorrer é o que não falta nas montanhas norueguesas, por entre uma quantidade impressionante de florestas, selvagens, naturais e, sobretudo, limpas, onde abundam o musgo, os cogumelos e as bagas silvestres. As amoras são amargas, agora as framboesas...



Fiquei rendida às "skogadas", os nossos passeios de fim de tarde nos bosques, à doçura das framboesas silvestres e à variedade de cogumelos.



Atenção: nas páginas internéticas, não se esqueçam de procurar uma bandeirinha inglesa, ou outra forma de opção linguística. Se não, uma no cravo outra na ferradura, que é como quem diz, com uns conhecimentozinhos de alemão e de inglês, vão ver que até dá para perceber qualquer coisita, que o norueguês não é nenhum bicho de sete cabeças!