Por tudo isto, cada viagem era uma epopeia. Lembro-me daquela, em Agosto de 1977, que nos levou de urgência até aos confins de Trás-os-Montes, quatro adultos, um quase adulto e duas crianças, dentro do Ford Cortina do meu tio. Cerca de treze horas entre a Amadora e Vila Verde da Raia, metendo o nariz em cada localidade intermédia; um engarrafamento fenomenal dentro de Coimbra, devido aos incêndios que grassavam na periferia; a paragem para comprar o jornal, que nos informou da morte do Elvis, na véspera, assunto para o resto da viagem e notícia para dar à chegada; as curvas; as pausas para eu vomitar.
E daqueloutra corrida, no Verão de 1990, entre Tavira e Faro, pelos meandros da N125, a perder, semáforo após semáforo, as esperanças de conseguir apanhar o comboio rápido para Lisboa.
Foi por tudo isto, também, que, quando em Julho de 1989 rumei a Paris, de autocarro, tinha a ilusão pueril de ver desfilar na janela catedrais góticas e feiras de província. Em vez disso, muitas horas de asfalto e fugidias indicações toponímicas, que me fizeram perceber o que são auto-estradas, que, pouco depois, com os apoios comunitários, passaram também a fazer parte da nossa realidade.
O caminho mais rápido entre dois pontos, sem dúvida, e um factor de progresso. Ir mais longe o mais rápido possível, com o maior conforto e o mínimo de imprevistos. Uma limpeza futurista criada ao estilo da melhor ficção científica, como a de Júlio Verne, que nos imaginou a viajar em tubos pneumáticos. Tudo limpinho, sem impecilhos, velhotes ao sol, semáforos, miúdos, galinhas e adros de igreja. Ficam todos de fora, com as catedrais góticas, os castelos, as esplanadas com vista e os turistas.
Mas, às vezes, é difícil resistir aos apelos dos sinais de indicação turística e é então que vale mesmo a pena descarrilar e aproveitar uns momentos de desvio.



Castelo de Almourol, 3 de Novembro de 2007
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