Gabinete de curiosidades


Cairo (Egipto), Agosto de 2024

Há muito tempo, escrevi aqui um pequeno texto, intitulado "Estes romanos são loucos!", no qual reflectia sobre as diferenças culturais e sanitárias com que me ia confrontando nas minhas viagens. Vinte anos depois, considerei um segundo capítulo, mas o título pareceu-me ainda mais etnocêntrico do que antes (o Sr. Astérix que me perdoe). Assim, decidi enveredar por um conceito datado, mas capaz de abarcar todo o bricabraque que vou recolhendo.
Vem isto a propósito da minha recente viagem ao Egipto. Anteriormente, à excepção do excesso de batatas nas ementas da Europa Central, pouco houve que me surpreendesse ou incomodasse. Contudo, ao mudar abruptamente de continente e de cultura, as pequenas diferenças nos objectos do quotidiano (mesmo em ambientes Western friendly) começaram a insinuar-se e a ocupar-me tempo e atenção. E, tal como tinha sucedido no Japão, tudo principiou na casa de banho.



As duas imagens acima retratam a sanita do meu quarto de hotel no Cairo. À primeira vista, tudo normal, em forma e função, até ter reparado no orifício metálico na parede interior traseira, mesmo abaixo do rebordo. A pulga saltou detrás da orelha ao aperceber-me de uma maçaneta, do lado direito do utilizador, que não tardei a experimentar: um jacto de água, mais mecânico e elementar, mas quase tão bom como um tampo TOTO. Muito útil, num país onde a gastronomia e a água pouco potável nos proporcionam frequentes oportunidades de o apreciar.
Já em Hurgada, uma sanita idêntica era complementada por um bidé muito curioso. Em geral, é um equipamento a que dou bastante uso, em férias balneares, mais precisamente, para enxaguar fatos de banho. Porém, este causou-me desde logo estranheza, por não conseguir perceber onde ficava a saída da água: tinha um manípulo misturador, mas sem boca de torneira. Só depois reparei na peça metálica no fundo da bacia, que se transformou em géiser, a um ligeiro toque no manípulo. Foi assim que fiquei fã da sanita a jacto; já o bidé, nem me atrevi mais a dar-lhe uso.


Hurgada (Mar Vermelho, Egipto), Agosto de 2024

Outra coisa curiosa, mas esperada, foi um autocolante no tecto do quarto, no Cairo, indicando a quibla, ou seja, a direcção de Meca, para que os fiéis saibam para onde se virar durante a oração.



Já o que eu não esperava era uma diferença tão grande na forma dos algarismos. Ingenuamente, pensava que o meu desconhecimento das letras seria compensado pela familiaridade com os números árabes. Errado: o Egipto usa os algarismos arábicos orientais, bastante diferentes dos nossos. Valeram-me os poucos casos que encontrei de "transnumeração".




Cairo (Egipto), Agosto de 2024

Entre as surpresas agradáveis, conto a descoberta da Schweppes de romã, entre as muitas variedades de refrigerantes da marca. Ao que parece, já chegou também à Europa, onde ainda não me cruzei com ela. Deste Verão, no Velho Continente, só retenho a experiência desagradável de uma Coca-Cola com sabor a pipocas, na Alemanha. A evitar, a todo o custo.


Assuão (Egipto), Agosto de 2024

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