Para uns são alegrias (32)


Castelo de Vide, Novembro de 2023

Este marco ostenta uma identificação de fábrica semelhante à daquele que vi na Golegã. Na altura, só consegui ler "Empreza Industrial", pelo que não pude descobrir a sua proveniência. Agora que encontrei este, percebo que o da Golegã tinha ficado semi-enterrado pelos arranjos da calçada: aposto que dizia "Empreza Industrial Portugueza Lisboa - 1918". Isto porque até a númeração é muito próxima (698 e 700), o que sugere que provieram de uma mesma encomenda.



Sobre a fábrica, consegui descobrir que "a Empresa Industrial Portuguesa era uma empresa de metalo-mecânica, particularmente vocacionada para a construção de grandes obras". Foi fundada, em Lisboa, em 1874, por João Burnay e fazia parte do grupo de empresas de Henrique Burnay. Era "a maior e mais importante fabrica portugueza de metallurgia", conforme afiançado por este anúncio, de 1911 (e pelos indicadores de dimensão, de 1917).



Produzia ferro fundido, em tubagem, e ferro fundido e forjado para diversas obras no mercado nacional (coberturas metálicas, barcos a vapor, pontes, tubagem e algumas máquinas industriais), importando ferro coado para fundição, cobre, latão, bronze e chumbo de Inglaterra, Espanha e Bélgica, e carvão de Inglaterra, para o que lhe valia a proximidade ao Porto de Lisboa.


Pavilhão da Empreza Industrial Portugueza, na Exposição Industrial Portuguesa,
na Avenida da Liberdade, 1888; foto do Estúdio Mário Novais, encontrada aqui.


Participou na Exposição Industrial Portuguesa de 1888 e, em 1899, considerou entrar no ramo da construção automóvel, para o que "convidou um engenheiro francês, Albert Beauvalet, para dirigir a concepção e o processo de produção de um automóvel nacional". Foi a primeira fábrica portuguesa a produzir aço, através do processo Bessemer, em 1905, e, a partir de 1914, foi a representante, em Portugal, do grupo "General Motors Overseas".
Teve o seu melhor momento durante a I Guerra Mundial, quando forneceu ferro, aço e armamento aos exércitos aliados. O pós-guerra revelou-se, no entanto, difícil para a indústria, pelo que, em 1920, foi integrada no grupo Companhia União Metalúrgica. Porém, em 1924, acabaria por encerrar as suas instalações em Alcântara.





Fontes:
- Mónica, Maria Filomena (1982). Indústria e democracia: os operários metalúrgicos de Lisboa (1880-1934). Análise Social, vol. XVIII (72-73-74), pp. 1231-1277.
- Pistola, Renato (2009). Alcântara, A Evolução Industrial de Meados do Século XIX ao Final da I.ª República. Dissertação de Mestrado, FCSH-UNL.
- O sempre indispensável "Restos de Colecção".
- O muito útil "Toponímia de Lisboa".

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