Para uns são alegrias (24)






Portalegre, Junho de 2022

Uma coisa nunca é só uma coisa, senão um conjunto de detalhes com mais ou menos saliência. Ultimamente, tenho reparado em pormenores interessantes nos marcos de correio: a numeração, o logótipo, a identificação da fábrica, entre outros.
Por exemplo, o marco acima ostenta o primeiro logótipo oficial dos Correios, de 1936, tal como acontecia com este marco de Nisa. Já este, também de Portalegre, assim como esta caixa, exibem o logótipo de 1964:


Portalegre, Abril de 2017

Marcos e caixas postais mais antigos têm apenas uma faixa com a menção "Correios", como estes em Lisboa, Golegã, Crato, Guimarães, Braga e Marvão, por exemplo.
Da minha colecção, constam também diversas caixas postais, como as de embutir, modelo de 1895, que encontrei em Lisboa, Alcochete e Ponta Delgada, as duas últimas marcadas com a coroa real.
A partir de 1940, começaram a surgir as caixas postais de modelo único, mais simples e afixadas sobre a parede, de que são exemplo estas, em Galegos (Marvão), Évora e Brotas (Mora). Em Portalegre, encontrei também uma de modelo da década de 1960, assim como exemplares do modelo de 1993.
Quanto à numeração dos marcos e caixas, ainda não explorei esse assunto, porque me tenho entretido a decifrar as inscrições de fábrica. Por exemplo, o marco acima diz, na base, por baixo de muitas camadas de tinta preta e teias de aranha, "Fundição de Massarelos Porto". A Fundição de Massarelos iniciou laboração ainda na primeira metade do século XIX e foi considerada uma das melhores do país, assim como a Fundição do Ouro, onde foi fabricado este marco de Guimarães:


Guimarães, Agosto de 2018

Em Marvão e no Crato, encontrei marcos fabricados pela Cooperativa Indústria Social, de Lisboa, respectivamente, em 1900 e 1930 (e também a caixa embutida de Alcochete):


Marvão, Outubro de 2011


Crato, Dezembro de 2018

O marco da Golegã tem a inscrição "Empreza Industrial", que ainda não consegui identificar:


Golegã, Novembro de 2018

Mas os que mais me deliciam são um de Lisboa e outro de Braga que ostentam a inscrição "A. Handyside & Co. Derby & London":


Braga, Julho de 2017

Andrew Handyside adquiriu uma fundição em Derby, em 1848, e, entre muitas outras obras (todo o tipo de estruturas em ferro fundido, pontes e lampiões, por exemplo), foi um dos primeiros fabricantes de marcos de correio ingleses de padrão uniformizado. Aparentemente, recebeu também encomendas de Portugal.
São assuntos fascinantes (pelo menos para mim), que serão, a seu tempo, devidamente explorados. De momento, deixo aqui alguma bibliografia:

- Cordeiro, José Manuel Lopes (1999). O triste fim da Fundição do Ouro. Jornal Público, 25/04/1999.
- Jorge, Ivo (2009). Evolução de Imagem dos CTT.
- Lázaro, João (2021). A Cooperativa Indústria Social. Uma experiência coletiva na monarquia constitucional. Revista de História da Sociedade e da Cultura, vol. 21, pp. 37-55.
- Queiroz, Francisco (2000). Património Fabril do Porto. Boletim da Associação Cultural Amigos do Porto, 3.ª série, n.º 18, pp. 65-74.

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