InterRail 2005 (II)
Na segunda noite, lembro-me de ter dormido melhor. Não havia tanta gente na cabine onde estava e isso e o cansaço acumulado cedo me fizeram embarcar no reino dos sonhos, embalado pelo constante trepidar das carruagens.
À chegada a Paris, novamente me apercebi das medidas de segurança reforçadas. Devo dizer que, dos países que percorri, a França foi aquele onde estas se fizeram sentir de forma mais nítida. Para onde quer que olhasse, lá estavam sempre um ou dois polícias com as semi-automáticas a tiracolo... apesar de olharem mais para as pernas das raparigas que passavam, em vez de procurarem possíveis ameaças à segurança, mas isso é um pormenor...
Apesar de esta passagem por Paris ser meramente para mudança de comboio, pois aquele que tencionava apanhar para Amesterdão partia de uma outra gare (Gare du Nord), e só à noite, meti-me no metro e, depois de guardar as mochilas num cacifo (caríssimos, em França!) dessa gare, aproveitei as breves horas de que dispunha percorrendo as margens do Sena. O tempo estava uma lástima, diga-se de passagem. Caía uma chuva miudinha muito incomodativa e o céu encontrava-se encoberto. Acompanhando os bateaux-mouches com o olhar, admirei Notre-Dame à distância, o Musée d'Orsay, o Louvre, a Torre Eiffel... Regressei pela outra margem e fui-me assim aproximando progressivamente da Gare du Nord, abrigando-me aqui e ali da chuva... procurando as imagens que nos ficam na retina para mais tarde recordar. Tanto pode ser um monumento, como uma velha sentada num banco de jardim, um mercado de rua, saltimbancos, aves... parte do encanto de viajar reside nessas imagens sempre diferentes, que nos atraem o olhar e chamam a atenção.
Visão global do percurso que fiz ao longo das margens do Sena
Por esta altura eu ainda desconhecia, mas, salvo raras excepções, acabei por encontrar sempre chuva na maioria das cidades visitadas, mesmo tratando-se de Agosto... ao mesmo tempo, em Portugal, a seca prolongada fazia das suas, enquanto o país, indiferente, como sempre, se apinhava em busca de sol nas praias. Veio-me muitas vezes esta imagem ao pensamento, especialmente depois de levar uma valente molha...
Depois de se fazer de noite, e dispondo ainda de algumas horas, a melhor opção é procurar sempre um centro comercial ou um bar e passar aí o tempo restante até regressar à estação e embarcar para novo destino. Optei pelo segundo e lá tive de abrir os cordões à bolsa, pois o custo de vida em França é muito alto, quando comparado com a nossa realidade.
Não sei por que chamam la ville lumière a Paris. Claro que possui um imenso colorido nocturno, mas, se a comparar com outras cidades à noite, não me parece que exista uma tão grande diferença, até porque a quantidade de luzes se esbate no horizonte e os efeitos são similares a cidades menores. Mas não sei, talvez vendo a aproximação à cidade por avião, durante a noite, ela realmente mereça esse epíteto. Já de volta à gare, descalcei-me, regressei às minhas leituras e aproveitei para descansar um pouco, preparando-me já para a etapa seguinte: Amesterdão.
No interior da Gare du Nord. Destemido, como sempre.
Lá fora, chovia... e eu de t-shirt e calções!
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Texto e imagens de Pedro Bicho
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