A Grécia em destaques (IV): os calhaus

Antiga Corinto

Sítios arqueológicos
Há-os por todo o território continental e ilhas, de diferentes épocas, mais ou menos bem conservados. Regra geral, subsistem no local as pedras: esculturas, baixos-relevos, frescos e mosaicos foram retirados e encontram-se em museus, na Grécia ou no estrangeiro, juntamente com todo o tipo de objectos encontrados.
A Acrópole de Atenas é imponente. Situada numa elevação, domina toda uma cidade plana e cinzenta. Junto à Acrópole, o Areópago, a rocha do tribunal dos deuses; em frente, o monte Licabetos; em baixo, a cidade. O Parténon é inconfundível, com a brancura gritante das suas colunas sólidas. Curiosamente, era um templo muito colorido, como de resto a generalidade da arte helénica; o tempo é que se encarregou de limpar a pedra, devolvendo-lhe a brancura original. Transformado pelos turcos em armazém de pólvora, o Parténon explodiu, no século XVII, tendo sido reconstruído depois, com o que foi possível aproveitar. Também o Erecteion, com as suas cariátides, o Templo de Atena Nike, à entrada, o teatro de Dionísio, na encosta, todo o complexo, enfim, é digno de visita atenta.
Ainda em Atenas, a Ágora antiga, a Ágora romana e uma quantidade de pequenas escavações, aqui e ali.
Dos muitos outros sítios arqueológicos que visitei, destaco o de Delfos. Absolutamente impressionante, a situação geográfica, com uma paisagem de cortar a respiração. O complexo foi todo cuidadosamente reconstruído; as pedras não aproveitadas encontravam-se alinhadas, como peças de dominó. Episódio curioso: ao tentar identificar os vários edifícios pelas ilustrações do guia, dei-me conta de que o templo de Apolo, totalmente reconstruído na fotografia dos anos 80, encontrava-se, ao vivo, em 2000, em construção! Apercebi-me de que, como já tinha suspeitado noutros locais, as investigações devem ter provado que a reconstrução não estava exacta, pelo que o templo foi cuidadosamente desmontado e remontado, como uma construção Lego.

Delfos

Museus
Os mais importantes na Grécia são, sem dúvida, os de arqueologia. O maior é o Museu Nacional, em Atenas, com uma colecção impressionante de vestígios de várias épocas e civilizações, de entre as quais se destacam a cicládica, a micénica, a helénica clássica e a romana. Grande quantidade de estelas fúnebres, de jóias (entre elas, as do Tesouro de Atreu), de objectos do quotidiano, vidros e faianças, e de esculturas, com grande incidência de "mulas sem cabeça". Aprendi que a estatuária era uma indústria florescente entre gregos e romanos e que havia um grande cuidado não só com a realização como com a reciclagem das peças. Ou seja, estátuas de políticos mortos ou depostos e de senhores que não as tinham podido manter eram reaproveitadas para novos donos: escolhiam o corpo que mais lhes agradava, a cabeça que mais se lhes assemelhava, faziam-se as trocas e os retoques necessários e nascia nova obra. Eram negócios prósperos, os estaleiros de escultura!
Por entre salas e salas e salas profusamente recheadas, encontram-se peças absolutamente incríveis, de grande beleza, técnica e delicadeza, algumas com mais de 4000 anos!
Grande, também, o museu de Eraklion, em Creta, com o espólio das escavações de Cnossos e grande destaque para as civilizações cretenses, a minóica em particular.
Os maiores sítios arqueológicos têm espaços onde estão expostas as peças que não foram recolhidas pelos grandes museus. Assim, há museus na Acrópole e na Ágora antiga de Atenas, em Delfos, em Corinto, em Epidauro, etc. O de Delfos é pequeno (16 salas), mas tem peças belíssimas. Entre elas, uma estátua de Antinoos. Antinoos era um jovem egípcio (um kouros) de beleza estonteante, por quem o imperador Adriano se perdeu de amores. De tal forma que, quando o moço morreu prematuramente, aos 18 anos, afogado no rio Nilo, o imperador, transtornado, elevou-o à categoria de um deus, ordenando a colocação de imagens suas em lugares públicos de todas as grandes cidades do império romano. A estátua do museu de Delfos ainda congrega amontoados de visitantes em seu redor e suscita olhares lascivos e suspiros, de admiradores de ambos os sexos.

Antinoos

Uma aventura em Viena

Não gosto de estereótipos, não acredito que os portugueses usem todos suspensórios, que os americanos sejam todos burros e que as espanholas se perfumem para não se lavarem. Na relação com os estrangeiros, acho tão verdade que os alemães sejam todos xenófobos como que os portugueses sejam todos acolhedores. Pessoalmente, encontrei alemães muito hospitaleiros em Berlim, espanhóis muito abertos aos portugueses em Madrid e brasileiros mais cépticos no Rio de Janeiro. A minha teoria é que, em todo o lado, é preciso dar-lhes tempo, para eles nos conhecerem melhor e nós a eles. Talvez por isso, por no total ter lá passado mais tempo, é que guardo piores recordações de França (das relações interpessoais, entenda-se).

A Stephansdom reflectida nos vidros espelhados do edifício da Zara

Lembra-me um fim de tarde em Viena, quando eu e a Ana Isabel decidimos aproveitar os últimos raios de sol e a calidez da tarde para darmos um passeio, a pé, ao longo do Ring. É uma avenida circular muito bonita e muito sóbria que contorna e delimita o centro histórico da cidade, ladeada por palácios, igrejas e edifícios muito imperiais e muito cuidados. Íamos andando e conversando, comentando a hospitalidade, a simpatia e a eficiência dos austríacos (por acaso, também a excelência do clima, e nos dias que se seguiram foi o que se viu...). Jantámos perto da pensão e fomos dormir, felizes como dois passarinhos.
Na manhã seguinte, acordámos com um pecúlio de cerca de um euro e meio, manifestamente insuficiente para dois cafés matinais na cidade mais cara da Europa central. Aprendemos nesse dia, à nossa custa, que nunca, mas nunca, se deve deixar acabar o dinheiro no estrangeiro, nem confiar excessivamente na rede de caixas ATM. Descemos a Mariahilfer Straße, uma grande rua comercial que vai dar ao centro, e parámos no primeiro banco, para vermos todos os ecrãs Multibanco rirem-se dos nossos cartões e das nossas caras. Entrámos na agência e fomos extremamente mal recebidas pelo funcionário, que reclamou por os cartões não estarem assinados, desdenhou dos nossos bilhetes de identidade e exigiu passaportes a sério. Ainda argumentámos com a União Europeia, o tratado de Schengen, mas nada. Voltámos à pensão para buscarmos os passaportes, que, por acaso, tinham ficado como caução do quarto, que ainda não tínhamos pago. A dona não achou muita graça, mas foi sensível aos nossos argumentos. Regressámos ao banco e dirigimo-nos a outro funcionário, a quem relatámos o episódio anterior. Este foi mais atencioso, desculpou-se pelo colega, aceitou os nossos bilhetes de identidade, mas não os cartões Multibanco, porque não estavam assinados. Quem é que lhe garantia que não os tínhamos roubado? Aconselhou-nos a assiná-los e a dirigirmo-nos a outra agência, de preferência do Banco de Áustria, porque ali já não teríamos sorte nenhuma, que eles não queriam ser cúmplices de um presumível caso de falsificação de assinaturas.
Andámos mais uns quarteirões até à agência mais próxima do Banco de Áustria, onde as máquinas tiveram a mesma reacção (soubemos, mais tarde, que tinha havido uma avaria nos sistemas, que inviabilizava as comunicações internacionais). Pedimos ajuda a uma funcionária, muito simpática, que nos disse não poder fazer nada; a alternativa seria um cash advance com o cartão de crédito. Infelizmente, naquela agência, o sistema Visa estava avariado havia uns dias, teríamos de nos dirigir à agência mais próxima, mesmo no centro, na Stephansplatz, junto à catedral de Santo Estêvão, a Stephansdom. E lá fomos, ao longo da Mariahilfer, que é enorme, cheias de calor, de fúria e de fome. Só conseguimos arranjar dinheiro para comer pelo meio-dia, e depois de termos desembolsado uns contos de reis em comissões de Visa.

Palácio de Schönbrunn

Duas doses de Schnitzel mit Kartoffelsalat acalmaram-nos os ânimos e os estômagos, e resolvemos dar continuidade ao programa do dia: uma tarde no Schloß Schönbrunn. Era o palácio de Verão da família imperial, em tempos no campo, hoje na periferia da cidade. Os quartos da imperatriz Maria Teresa, o escritório do imperador Francisco José, a Gloriette da Sissi, uns jardins lindíssimos, cheios de esquilos, que vêm comer às mãos dos turistas, e uma funcionária muito simpática, que nos confirmou que a hora de fecho do bengaleiro, onde deixámos todos os nossos haveres, era às 17h30.
Pelas 17h20, já refeitas dos aborrecimentos da manhã e com a confiança restaurada nos austríacos, nos esquilos e no Apfelstrudel, descemos o jardim, para encontrarmos o palácio fechado (e com ele o bengaleiro). Entrámos em pânico, batemos a todas as portas, sem resultado, até que pedimos ajuda ao porteiro, que, a contra-gosto, lá saiu do portão e, pesadamente, se encaminhou para o palácio (atenção que, num palácio com aquelas dimensões, todas as distâncias são enormes). A moça simpática estava na sala de convívio, com os outros funcionários, a beber café. Quando a confrontámos com a disparidade entre o horário de fecho e a hora a que ela, efectivamente, tinha abandonado o local de trabalho, argumentou que não havia mais ninguém, que os outros visitantes se tinham já todos ido embora... Os nossos pertences estavam encafuados numa arrecadação...
Não, não é só em Portugal que estas coisas acontecem. Mas também não foi por isto que fiquei com má impressão dos austríacos. Prefiro lembrar-me da senhora da bilheteira da DDSG, que ficou tempos a conversar connosco, a mostrar-nos a colecção de euros e a procurar moedas repetidas para nós.

A Grécia em destaques (III): as ilhas

Praia de Matala, Creta

Creta
A maior das ilhas gregas, acima do Norte de África. Devido à sua situação geográfica, teve, desde sempre, grande importância histórica. Berço da civilização minóica, alberga as ruínas do palácio de Cnossos, cuja escavação esteve a cargo de um grupo de jovens e ricos aventureiros do início do século XX, que, no espaço de um (!) mês, puseram à vista a maior parte dos vestígios (que não conseguiram estragar com as pressas). Mesmo assim, provêm de Cnossos achados impressionantes, entre faianças, frescos e jóias, em exposição no Museu Arqueológico de Eraklion, a capital da ilha. Importantes são também os sítios arqueológicos de Phaistos e Gortys, no último dos quais foi encontrado o famoso código da lei. Mais interessantes em Creta, quanto a mim, são as influências turcas e venezianas, em cidades como Rethymnon e Chania, na parte ocidental da ilha. E ainda os curiosos túmulos romanos escavados nas rochas da praia de Matala, que serviram de abrigo aos hippies que para aí foram viver, nos anos 60 e 70.

Porto de Rethymnon, Creta

Rodes
A ilha mais oriental do Dodecaneso, muito próxima da costa turca, teve grande importância geo-estratégica, no tempo das cruzadas. A capital, a cidade de Rodes, possui uma belíssima cidadela medieval (Património da Humanidade), e pouco mais do que isso: o resto da cidade é preenchido com ruas apinhadas de hotéis, restaurantes e lojas para turistas. É um paraíso de férias para jovens escandinavos, que bebem e cantam nas esplanadas noite fora (até a polícia aparecer para acabar com a festa). Não é, decididamente, um bom sítio para descansar. À entrada do porto, duas colunas encimadas por, respectivamente, um veado e uma corça marcam o local onde assentariam os pés do mítico Colosso de Rodes, uma das sete maravilhas da Antiguidade. Destaque, ainda, para a cidade de Lindos, uma perolazinha de casinhas caiadas que se estendem por uma encosta, até à praia. E uma curiosidade: um pequenino santuário, no cimo de um monte, 297 degraus acima da praia de Xaraki. Depois de íngreme escalada, soube que aquele é um santuário onde as mulheres gregas vão pedir fertilidade, graça que, uma vez obtida, é paga atribuindo ao bebé o nome do santo que a concedeu (Trampiko ou Trampika, consoante o sexo). Não sei como é que o nome soa em grego, mas escusado será dizer que fiquei muito feliz por não ter visto a minha família aumentar, nos meses que se seguiram.

Colosso de Rodes