Dubrovnik



E lá entrámos em Dubrovnik, pela Porta de Pile, como toda a gente. E, literalmente, com toda a gente.
Dubrovnik é a maior atracção turística da Croácia, e, inegavelmente, uma perolazinha. Consta que George Bernard Shaw lhe chamou o Paraíso na Terra. Consequentemente, está sempre apinhada de gente. Fotos idílicas, só mesmo aos telhados, para evitar as muitas cabeças intrometidas.



A Porta de Pile dá acesso à Placa (Stradun), a rua principal, que atravessa a cidade velha em linha recta até ao porto. Pelo caminho, encontramos as principais atracções da cidade: a igreja de S. Salvador, a grande fonte de Onofre, o museu e o mosteiro franciscano, a coluna de Orlando e o Palácio Sponza, com os arquivos históricos, mesmo junto à grande torre do sino. Para a direita, a igreja de S. Brás (Sveti Vlaho), padroeiro da cidade, a Câmara Municipal, o Palácio do Reitor (museu da cidade) e a Catedral. Para um lado e para o outro da Placa (que se lê platsa), o antigo casario empoleira-se nos desníveis rochosos, geometricamente alinhado ao longo de estreitas ruas paralelas e muitos degrauzinhos. Quanto mais se sobe, melhor é a vista. O calor excessivo faz pensar duas vezes: não fossem as igrejas e os conventos lá pelo meio, as fotos panorâmicas podem sempre guardar-se para o caminho da ronda.



A cidade velha de Dubrovnik é uma fortificação medieval construída sobre um rochedo. O complexo integra ainda, do lado de fora, o forte Lovrijenac (um dos seus pilares defensivos) e a casa de quarentena (Lazareti). Classificada pela UNESCO, em 1979, como património da Humanidade, viu a classificação confirmada em 1994, depois da reconstrução. À entrada de cada uma das portas da cidade, um mapa assinala os danos sofridos durante a guerra. O vandalismo bélico, hoje em dia, está particularmente atento aos pontos turísticos. Não fossem os ditos mapas e facilmente esqueceríamos que, há cerca de 15 anos, as lajes brancas da Placa ficaram todas esburacadas, a grande fonte de Onofre esventrada, quase todos os vidros estilhaçados, muitos telhados rebentados e casas ardidas. E muito dinheirinho da UNESCO e dos contribuintes europeus para reparar os estragos. Não tenham juízo, não.
O caminho de ronda sobre a muralha oferece uma vista fabulosa sobre a cidade, o Adriático e a vizinha ilha de Lokrum. O bilhete é válido também para o forte Lovrijenac, de onde se tem uma bela vista exterior da fortificação da cidade velha. Há só que ter cuidado com a hora do passeio: aconselha-se entrar cedo de manhã, ou então deixar para antes do fecho, ao final da tarde, fora das horas mais quentes do dia.



Outras belíssimas perspectivas da cidade têm-se do mar. Também em Dubrovnik optámos por passeios de barco, para aliviar o calor insuportável. Tirámos um dia para uma excursão às ilhas Elafiti (Koločep, Šipan e Lopud) e uma tarde para conhecer a vizinha localidade de Cavtat, no vale de Konavle. Na verdade, não ficámos a conhecer muito nem de umas nem da outra, porque, assim que o barco parava, entrávamos dentro de água, porque fora não se podia estar.
Alternativa: o ar condicionado de um autocarro. Foi assim que tirámos um dia para pôr um pezinho no Montenegro (relato aqui e aqui).

Outra vista da cidade



Tinha pressa, nos últimos instantes. Atravessou a cidade, que está construída num vale, seguindo para o lado oposto ao cemitério, e começou a subir a zona nova do colégio e seminário até acabarem os prédios, são uns vinte e cinco minutos a pé.
Antes de se enfiar no mato, passou pelo pátio interno do colégio, uma espécie de coliseu romano dos lacraus. (...)
O coveiro sentou-se entre as mimosas com o saco de insecticida 605 Forte, o seu ferrão. Dali via até quase ao Rossio, a colina a subir ao Castelo, à Sé e Paço do Bispo, às chaminés da fábrica da rolha. Muito mais longe, atrás do Penhasco, para sul, as searas na planície e os montes azuis. Nas suas costas, a subida rochosa para a serra e para Espanha. As mimosas são acácias de um verde doentio na maior parte do ano, mas na Primavera dão realmente belos cachos. A cidade tem um perfil inconfundível na zona alta, como a dentadura duma chave. Ninguém conseguia fazer uma chave igual, e também ninguém queria.



Rui Cardoso Martins ([2006] 2007). E se eu gostasse muito de morrer. 3ª edição, Lisboa: Publicações Dom Quixote, pp. 24-25.