Entre dos años, entre dos mundos
No dia 30 de Dezembro último, eu e a minha amiga Maria João partimos rumo a Madrid, para mudarmos, simultaneamente, de ano e de ares.
Madrid é uma cidade grande, com cerca de 3 milhões de habitantes, e a capital mais alta da Europa (mais ou menos 646 m acima do nível do mar). É uma cidade bonita, instituída, em 1561, como sede da corte, por Felipe II (o nosso I) e concebida à imagem das grandes capitais europeias.
Os grandes palácios, os museus, os arcos triunfais, os largos Paseos, as grandes ruas comerciais (oh, a Serrano!...), a ampla divulgação dos criadores nacionais (Agatha Ruiz de la Prada, Adolfo Domínguez, Jesús del Pozo...), as grandes cadeias internacionais (Starbucks Coffee, Planet Hollywood, IKEA...), as cadeias internacionalizadas (a Zara, já com a sua versão HOME, a Mango...), tudo nos faz sentir muito perto da Europa.
Depois, há todo um estilo de vida castelhano que tem muito pouco ou nada a ver connosco: os bons ordenados e os horários de trabalho muito favorecidos permitem uma descontracção que se passeia, calmamente, ao nosso lado, em enchentes, de todas as idades, a todas as horas do dia, Gran Vía acima, Alcalá abaixo... Sempre em amena cavaqueira, muitos decibeis acima do socialmente admitido pela cultura portuguesa.
E, ainda, a frivolidade alimentar dos pinchos, tapas e raciones, noite fora, churros com chocolate quente, madrugada dentro.
Nem o frio de Dezembro (apesar do Sol radioso) conseguiu afastar os madrileños da rua -- dir-se-ia que não se sentiam bem em casa (o que não admira, que essa mania europeia de sobreaquecerem os interiores no Inverno sufoca qualquer ser vivente).
Gostei muito de Madrid. Ficámos instaladas num hostal, meio hostel, meio hostil (esta é uma criação da Maria João, que eu devia estar distraída), em plena Puerta del Sol, mesmo em frente ao relógio. Curiosamente, devemos ter sido as únicas pessoas em Madrid que não presenciaram, ao vivo ou mediaticamente, as famosas 12 badaladas: a essa hora estávamos retidas num restaurante japonês (o único aberto no centro, naquele dia e àquela hora e cujo relógio estava atrasado), a comer tempura e 12 uvas brancas (que os espanhóis não querem nada com as passas). Depois de festejarmos a passagem GMT, seguimos a multidão que, da Puerta del Sol, se espalhava pelas ruas e acabámos a noite num bar de Chueca, um bairro muito característico, pelo ambiente artístico e homossexual.
Mas badaladas não nos faltaram, durante aquelas noites, nem tangos em acordeão, logo pela manhã (La vie en rose, imaginem!), ou canto lírico até às tantas. Ou seja, na Puerta del Sol, faz-se tudo menos dormir. Por toda a cidade, de resto.
Espantos e agrados:
> O botellón de nochevieja, na Puerta del Sol: uma instituição nacional, que eu já conhecia das quintas-feiras estudantis de Cáceres -- um amontoado aconchegadinho de gente, armado de copos e garrafas de plástico (a polícia montou barreiras à entrada, para controlar), a beber e a confraternizar, na rua.
> Outra instituição nacional, a Plaza Mayor: muito bonita, com lindos frescos num dos lados (mas a de Salamanca continua a ser a minha preferida).
> O espírito festeiro dos madrileños, de todas as idades e condições sociais, que circulavam pela cidade armados com barretes coloridos ou chifres de rena, com luzinhas a piscar; de resto, a Plaza Mayor estava transformada numa Feira do Relógio, com barracas de venda de artículos de broma, aqueles que os nossos miúdos usam no Carnaval: perucas, máscaras, bisnagas, sprays, serpentinas, etc.
> A organização dos batalhões de limpeza, que, à primeira meia hora do ano, estavam alinhados às entradas da Puerta del Sol, modernamente equipados e prontos para apagar qualquer vestígio do botellón (ou de possibilidade de alguém conseguir dormir naquelas redondezas, naquela noite e nas que se seguiram...).
> Os Paseos, muy parisienses: de Recoletos, de la Castellana, del Prado...
> A quantidade de casacos de peles a passearem pelas ruas: é mesmo outro mundo...
> Os museus (Prado, Reina Sofía, Thyssen-Bornemisza): destes, não temos nós...
> As Pinturas Negras de Goya, no Prado, e a exposição de mobiles de Calder, no Reina Sofía; falhámos a exposição de Manet, no Prado (1h30 de espera para comprar bilhete...).
> A belíssima rede de Metro: mas, também, 1,15 € cada viagem...
> O caos da M30: um misto de 2ª circular com circuito de Monza.
> 400 e tal km gratuitos de autovía, contra os quase 13 € de portagem, entre Lisboa e o Caia (cerca de 230 km).
> O urso, símbolo da cidade, recuperado de velhas tradições, do século XIII, cujo primo direito eu já conhecia de Berlim...
> O design sueco e os preços do IKEA: está quase a abrir em Lisboa, mais uns meses, mais uns meses!
> Espárragos trigueros y revuelto de setas: ¡siempre!
Ligações de interesse:
> Descubre Madrid: guia de lazer e turismo
> Madrid Turismo: Dirección General de Turismo
> Ayuntamiento de Madrid
> Comunidad de Madrid
> Columbus Guides; Fodor's; Frommer's; Lonely Planet; Simply Madrid; Virtourist: informações sobre Madrid em guias de viagem