Hora de Inverno
Ontem, por esta hora, estava em Lisboa, naquele bar simpático, na Bica, que se estende por dois andares de esplanadas, com uma vista sublime sobre o Tejo, a Ponte 25 de Abril, o percurso incansável dos cacilheiros, a Lisnave, Cacilhas, Almada e uma cascata de telhados e antenas de televisão, prédios devolutos e casas recuperadas, ruas estreitas e muito horizonte.
Ontem, por esta hora, estava em Lisboa, naquele bar simpático, cheio de pessoas simpáticas, que fazem fila à espera de lugar, na plateia ou no 1º balcão, confiantes de que a grade providencial as isola da multidão de alcoólicos, toxicodependentes, sem-abrigo, cães, excrementos, polícias decorativos e turistas que povoa o miradouro do Adamastor, e lhes permite continuarem a sentir-se simpáticas.
Ontem, por esta hora, como todas as pessoas simpáticas que lá estavam, admirava o pôr-do-sol, as tonalidades avermelhadas do céu e as luzinhas que, gradualmente, se iam acendendo pela cidade. Pensei na sorte que tínhamos em poder usufruir de um fim de tarde tão bonito, depois de uma semana de temporais, e lembrei-me de que, com sol ou sem ele, hoje ia anoitecer uma hora mais cedo.