Parque Terra Nostra, Vale das Furnas (São Miguel, Açores), Agosto de 2019
Ao caminhar pelo Parque Terra Nostra, reparei em qualquer coisa meio escondida entre a vegetação rasteira e disse: "Olha, um passarinho morto..." Porém, notei que se mexia e baixei-me para o poder ver melhor. Tinha o tamanho de uma cria caída do ninho, mas a plumagem era demasiado desenvolvida, nomeadamente, as asas e a cauda. A asa esquerda parecia magoada, com as penas em desalinho, e o bichinho não conseguia voar, limitava-se a saltitar. Avisei um funcionário que ia a passar e que me disse que ia informar os colegas da recepção.
Considerei continuarmos o passeio, ciente de que tínhamos praticado a boa acção do dia, mas pesei vários factores desfavoráveis, como o tamanho diminuto do animal e as suas cores pouco contrastantes com o ambiente de fundo, que dificultariam o seu resgate, assim como a presença de gatos, para perceber que, sem ajuda nossa, o bichinho não teria qualquer hipótese de sobrevivência. Então, com alguma dificuldade, porque o malandro saltitava que se fartava, agarrei-o e prendi-o entre os dedos da minha mão, após o que rumámos à recepção. Lá, encontrámos um funcionário jovem, muito simpático e interessado, que se dispôs a cuidar do nosso enfermo e a dar-nos informações sobre o dito.
Era uma estrelinha-dos-açores, uma sub-espécie endémica de estrelinha-de-poupa (Regulus regulus, Linnaeus, 1758). Mais precisamente, seria uma estrelinha-de-são-miguel (Regulus regulus azoricus, Seebohm, 1883), adulta, que as estrelinhas são os pássaros mais pequenos da Europa. Foi essa exiguidade que determinou a escolha do nome científico do género, que é, literalmente, um diminutivo de "rei".
Felizmente, o nosso resgatado não tinha nada fracturado, apenas uma matéria pegajosa (cola, resina?) que lhe enleava as penas da asa e que o funcionário se dispôs a limpar.