InterRail 2003 / Mediterrâneo (I)
Em Agosto de 2003 realizei, juntamente com alguns amigos, uma pequena incursão de 23 dias a alguns países da bacia mediterrânica. As cidades que menciono abaixo foram aquelas que procurei conhecer melhor, umas por serem representativas dos seus países e culturas, e outras por serem locais onde tive de aguardar muito pelas ligações. As cidades que mais me impressionaram mereceram dias adicionais de visita, sendo que as outras foram visitadas somente durante o dia, tendo à noite aproveitado para fazer quilómetros e deslocar-me para nova cidade, dormindo nos comboios. A viagem foi feita essencialmente por comboio, exceptuando as ilhas gregas, onde os navios desempenham um papel fulcral. Aconselho vivamente uma gestão do tempo disponível. O ideal é viajar à noite e visitar as cidades durante o dia. A Espanha e a França, pelas paisagens que oferecem, sem dúvida que merecem um olhar para fora da janela de vez em quando. Espero que gostem das minhas impressões sobre os locais onde estive e que estas vos possam ser úteis, de algum modo.
Irun
Pequena cidade basca oposta a Hendaye, menos interessante que esta, mas possui pequenas tascas onde se podem comer saborosas iguarias regionais.
Hendaye
Porta de entrada em França. Sem monumentos dignos de nota, possui uma praia muito agradável com um extenso areal, virada para o Atlântico. Na parte mais afastada há uma zona reservada ao Naturismo. Quer seja adepto ou simplesmente voyeur, os melhores dias para visita são sem dúvida os do fim-de-semana, como pude constatar na viagem de volta, quando lá regressei.
Nice
Cidade agradável da Côte d’Azur, com amplas zonas verdes para restaurar energias. Não é uma cidade muito afamada pelos seus monumentos. Fiquei bastante desiludido com as praias, repletas de gente... e de pedras! A evitar, para quem tenha problemas de costas. Tem algumas pequenas igrejas junto à praia, as quais aconselho visitar. Pode aí encontrar algo inesperado (pelo menos, no meu caso, foi assim).
Génova
A zona junto ao porto é um local a visitar. Visitei um galeão turco, em exposição (entrada 5€) no porto, que se destacava das demais embarcações em redor. Possui também interessantes fachadas de edifícios e uma zona histórica digna de visita. Recordo-me em particular de uma pintura de S. Jorge a matar um dragão à entrada de uma casa senhorial.
Veneza
Cidade não muito grande, mas que merece uma atenção especial pelas suas características únicas. Por 22€ tem-se acesso aos barcos que são o principal modo de deslocação... o outro é andar, pelo que é altamente recomendável memorizar a localização das muitas fontes espalhadas pela cidade. Os preços são exorbitantes (cuidado com os couverts e o serviço de mesa dos restaurantes) e as filas de turistas nos principais monumentos são um local a evitar para quem tem pouco tempo disponível.
Possui inúmeros monumentos e canais, que devem ser visitados sem seguir uma ordem pré-estabelecida. De visita obrigatória são: a Praça de S. Marcos (à noite), a Basílica de S. Marcos, a Torre de S. Marcos (6€, mas a vista panorâmica da cidade compensa o investimento), a ilha de Murano, onde é possível ver o processo de criação dos cristais pelos quais é famosa e que se encontram à venda por toda a parte... Eu gostei particularmente das muitas estátuas de leões e manticoras (o símbolo da cidade). Fez-me particular impressão o facto de na sua maioria os pombos estarem aleijados (por causa dos pregos de protecção existentes na maioria dos monumentos).
Florença
A cidade é constituída por um conjunto de monumentos, formando uma zona histórica muito interessante e repleta de História a cada canto. Deve ser incluída no roteiro da visita uma ida à Ponte Vecchia e às suas ruelas de comércio, ao Palácio Strozzo e à Galleria dell’Academia, onde se encontra a estátua de David... com excepção da Ponte, tudo pago a peso de ouro, claro... Foi das poucas cidades onde encontrei um mapa da cidade em português.
Pisa
O ex-libris de Pisa é a famosa Torre de Pisa, conhecida mundialmente pela sua curvatura inclinada. A subida foi 15€ e a paisagem do topo é fantástica. No entanto, se o dinheiro escassear, creio que a vista exterior é suficiente e proporciona excelentes fotos (uma a empurrar a Torre de Pisa é muito popular). A área envolvente contém igualmente outros monumentos muito interessantes... novamente entradas pagas, pelo que convém seleccionar os preferidos. A melhor área para fotografar é, sem dúvida, o relvado. Quem optar por esta via, fica desde já avisado... deve ser célere a tirar as fotos, pois os guardas da zona histórica não apreciam muito o constante pisar da relva...
Roma
Esta cidade merece alguns dias de visita. Apesar de a entrada dos principais monumentos ser paga (uma constante, em Itália), recomendo, ainda assim, uma visita ao Fórum Palatino (ou ao Fórum Romano, vá aos dois só se tiver muito tempo livre) e ao Coliseu. A Praça Vítor Emanuel é imponente e digna de ser apreciada, sendo igualmente obrigatória uma ida até à Fonte de Trevi deitar a tradicional moedinha e formular um desejo... eu desejei ficar com as moedas todas que estavam lá dentro da Fonte... eram milhares delas! Uma ida ao Vaticano também é aconselhável pelo carácter histórico da Praça de S. Pedro, de onde o Papa João Paulo II faz os seus discursos e prédicas. Recomendo igualmente a Capela Sistina (10€ de entrada no Museu do Vaticano) e a Basílica de S. Pedro. Um aviso, no entanto... aqui, a entrada em calções não é permitida. Quanto às deslocações pela cidade, o metro é a melhor opção. Se for do género aventureiro, experimente não pagar bilhete... a fiscalização é muito reduzida.
Milão
Cidade industrial do norte, é a capital económica da Itália. Tem, por isso, outros motivos de interesse sem ser a visita da sua zona histórica, que apresenta igualmente alguns monumentos interessantes de visitar. Não visitei grande coisa da cidade, mas como dormi no chão da estação dos comboios de Milão (num saco-cama), posso tecer um breve comentário sobre essa experiência fascinante! Há uma esquadra no interior da estação, havendo permanentemente polícias de plantão. As pessoas dormem pouco afastadas umas das outras, por motivos de segurança. Reparei que a delinquência e os assaltos são um problema. A minha primeira visão ao acordar foram uns polícias e cinco indivíduos algemados a passarem-me ao lado... quanto ao chão da estação é de boa qualidade, quando se está cansado, dorme-se nos lugares mais improváveis!
Brindisi
Nesta pequena cidade portuária fiz a ligação com Corfu, através de barco. Os barcos são muito bons e rápidos, mas quem possui bilhete InterRail deve estar especialmente alerta. À saída da estação pode-se comprar, a 100 metros, os bilhetes de embarque, mas estes são um embuste. Custam 57€ e apenas 500 metros à frente, numa companhia que se chama Blue Star Ferries (e que tem contrato com o InterRail), estes custam somente 5€!!! Devo dizer que eu apercebi-me logo do logro pelo discurso deles, mas como me tinha desencontrado de alguns dos meus companheiros de viagem em Roma e tinha acabado de os reencontrar, acabei por decidir comprar o bilhete mais caro (mas muito me custou... e não foi só na carteira!), pois eles tinham-se deixado levar pela conversa do vendedor, tal como a maioria dos InterRailers, segundo me pude aperceber.
(Continuação)
Texto e fotos de Pedro Luís Laima Bicho