Cidade maravilhosa

Desembarcámos no aeroporto do Galeão, no dia 1 de Novembro de 1998, para 10 dias repartidos entre um congresso e passeios. Lembro-me de que quando entrei no táxi abri muito os olhos, para reter o máximo possível de imagens e sensações da Cidade Maravilhosa. Tinha a cabeça cheia de postais ilustrados e imagens de telenovela, que esperava reencontrar. Mas, à medida que o motorista avançava rumo ao nosso hotel, em Copacabana, fui sendo assaltada pelo desconforto de quem sente que se enganou no caminho.
Ao longo da auto-estrada, estendia-se um imenso caos urbanístico de casas de tijolo nu, semi-construídas. «É o bairro da Maré, é uma favela. E não é a maior», esclareceu o motorista. Nunca me passara pela cabeça que uma favela pudesse ser tão grande. Aquela tinha a dimensão de uma cidade portuguesa do interior.
A luz do crepúsculo não conseguia disfarçar o tempo cinzento e fresco – uma temperatura de 20º C é considerada baixa para a Primavera carioca. O furacão Mitch, que assolava ainda a América Central, causara perturbações sérias no clima, que se mostrou muito irregular durante o tempo que lá estivemos.


Uma vista do Pão de Açúcar

A instabilidade do clima foi, de facto, o que perturbou mais a nossa estada. Isso e o facto de a British Airways ter perdido as nossas malas, que só apareceram ao fim de 3 dias. A humidade relativa era de tal forma elevada que qualquer tentativa de lavar roupa se revelou infrutífera. Além da humidade típica de um clima tropical, havia a chuva miúda e o nevoeiro. Quando, ao fim de uns dias, o sol abriu, a cidade parecia outra.
O Rio de Janeiro é uma cidade lindíssima, literalmente, bonita por natureza. As belezas naturais são estonteantes: as baías, as praias, as montanhas, as florestas. O património construído é muito irregular: os bairros antigos (o Centro, por exemplo) estão completamente descaracterizados, com aranha-céus imiscuídos entre os imóveis tradicionais.
As desigualdades sociais são gritantes: nas zonas caras, junto à praia, os prédios têm gradeamentos que os isolam da rua. Em qualquer ponto da cidade, entre cada dois prédios, pode vislumbrar-se, ao fundo, uma favela num morro. Ironicamente, quando escurece, as luzes que se acendem fazem as favelas parecer grandes presépios.


Praia de Copacabana, favelas ao fundo

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