Marthiya de Abdel Hamid

Não sei
Se tornarei a ver
As caravanas
Que de madrugada
Atravessam o deserto
Em frente
Às ruínas de Palmira

Ou
As azenhas milenares
De Hama
A chiar de esforço
Quando elevam
A água do Ononte
Até ao aqueduto
Que encima a cidade

Ou
A paisagem
Aos pés do monte Kasyun
Coberta de estrelas
Que caíram
E se fizeram
Pura luz esparsa:
A cidade de Damasco

Não sei
Se tornarei
A fazer a viagem nocturna
No comboio de Bagdad:
Alepo, Nínive,
Tikrit...

E se outra vez ainda
Poderei erguer os olhos
E ver a beleza de Nahila
Nos limites da sua açoteia.

Já ouvi dentro de mim
Um trovão
Fender-me a alma.

Para a unir de novo
Não sei o que terei de enfrentar.



Poema de Alberto Pimenta, Marthiya de Abdel Hamid segundo Alberto Pimenta, Lisboa, &etc, 2005, pp. 53-54.
Imagem de Wikipedia.

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