Onde é que estão as vacas? (VIII)

Tresmalhadas: Estação de Santa Apolónia - Belém - Campo Pequeno - Avenida de Roma - Largo das Portas do Sol - Estádio da Luz - Hospital D. Estefânia


Balanço final:
Pronto, já estão todas! 101 vacas da parada, mais uma extra-concurso (a Cowlombus, no Saldanha, pertence à exposição de Barcelona; veio para Lisboa para anunciar o evento).
Os percursos que assinalei foram meras sugestões, uma forma de organizar aquelas vacas todas. Porque eu tornei-me uma verdadeira caçadora, em safari pela cidade, a farejar pistas, sempre com as presas na mira. Descobri estratégias e informadores, cruzei-me com outros caçadores, com quem troquei informações. Vendedores de quiosques, carrinhos de gelados ou lojas de bairro, polícias e funcionários municipais são as fontes mais seguras.
Comecei em força logo em Maio, o que me permitiu, na maior parte dos casos, ser mais rápida que os vândalos. O meu recorde pessoal foi de 48 vacas fotografadas num só dia.
Foi divertido poder tirar umas horas todas as semanas, para percorrer a cidade, a vasculhar os recantos mais insuspeitos. O lugar mais estranho onde alguma vez imaginei ir fotografar uma vaca em fibra de vidro (ou fazer o que quer que fosse) foi mesmo o Estádio da Luz.
Hoje, confesso, cacei uma à traição: cansei-me de esperar que a Calçada Portuguesa voltasse à Praça do Município e fui procurá-la ao Hospital da CowParade, um jardinzinho simpático no recinto do Hospital D. Estefânia. É um local muito agradável, com espaços concebidos para as crianças, onde elas podem desenhar e pintar vaquinhas, enquanto assistem aos trabalhos de recuperação das "doentes". Revi velhas amigas (a Vaca que ri voltou a perder os brincos) e conversei com uma das organizadoras da exposição, uma jovem muito simpática que me explicou que, contra a sua própria percepção, o vandalismo não tem sido assim tão grande. Os organizadores internacionais do evento, em visita a Lisboa, acharam que as vacas até estão em muito bom estado. Ao que parece, nas outras cidades, chega a ser muito pior. Em Paris, por exemplo, foi uma desgraça.
Hoje estavam seis no hospital, mas já chegaram a estar nove em simultâneo. A Calçada Portuguesa estava a receber os últimos retoques, para poder voltar já amanhã para a rua. A Cow-Passion vai finalmente brilhar como uma árvore de Natal, mas já não volta para o Rossio: vai para o Centro Comercial Vasco da Gama. E soube que a Cow Hermeticus, no final da Feira do Livro, sempre foi para a Quinta das Conchas.
A jovem organizadora fez-me uma pergunta terrível: de quais é que eu gostei mais? Senti-me como uma daquelas crianças que se engasgam todas quando as questionam em directo para a televisão. Depois de ter visto 101 vacas, é óbvio que gostei mais de umas do que de outras, mas lembrar-me de quais, assim de repente... E nem acho que isso seja muito importante. Nem isso nem a qualidade das obras. Gosto de arte de rua, sobretudo pelas reacções que provoca e pelas relações que cria. Falei-lhe das pessoas com quem conversei, nas minhas deambulações, que me revelaram a sua consternação pela triste sina das bichinhas: «São tão engraçadas, coitadinhas! Aquilo são uns malvados!». Ela contou-me as sugestões que chegaram a receber, por parte de alguma população mais idosa, coisas como electrificar as vacas e tudo! E uma das autoras, que lhe confessou ter-se fartado de chorar, quando viu a sua obra toda graffitada.
As vacas vão continuar à solta por Lisboa até Agosto, sem haver ainda dia definido para a recolha. Vou gostar de continuar a vê-las, transformadas diariamente pelo confronto com a cidade, e acredito que não vou conseguir resistir a mais uns disparos (apesar de ter já 295 fotografias dos ditos bovinos).
De resto, agora que lhe apanhei o gosto, vou continuar à procura de caça grossa.

1 comentário:

Anónimo disse...

olá. encontrei este teu canto por acaso e revi me nestas tuas palavras, tb eu andei a caçar as vacas e tirei tantas fotos como nunca em todas as posições e a todos os pormenores, e descobrir os cantos onde elas se encontravam tb foi mt giro. um bj Fátima