Balão sobe

 
 
 
 
 
 

10º Festival Internacional de Balões de Ar Quente do Norte Alentejano
5-12 Novembro 2006
Organização Publibalão


Dia 8, de manhã cedo, em Fronteira. Montar o equipamento, encher os balões, embarcar e levantar voo.
Acompanhámos uma equipa belga, a participar neste festival pela décima vez. Havia cerca de 30 balões no evento: algumas equipas portuguesas, em maior número espanholas, francesas, belgas, holandesas, britânicas e uma australiana.
As equipas desdobram-se em duas frentes: a do ar e a do suporte terrestre. No nosso balão, que tinha um cesto razoavelmente grande, éramos cinco a bordo, mais três botijas de propano. A equipa 5, com um cesto mais pequeno, levava três pessoas; o balão vermelho e branco não tinha cesto: tinha um único tripulante, sentado numa cadeira, sobre duas botijas.
O piloto controla tudo: as descargas de gás, que regulam o aquecimento do ar e, consequentemente, a altitude; as cordas do leme, o GPS e o contacto de voz com o solo.
No primeiro impulso, subimos até uma altitude de cerca de 1000 metros, atravessando as nuvens. Ao contrário do que sucede dentro de um avião, num balão estamos directamente expostos às condições climatéricas: sentimos nitidamente a humidade fria das nuvens, a pressão nos ouvidos, a deslocação do ar, o silêncio, o cheiro do propano queimado, o calor directo do sol e o da chama sobre a cabeça.
Depois descemos até uma altitude mais aceitável, que variava entre os 400 e os 250 metros, a uma velocidade de cruzeiro de 9 nós, aproximadamente 18 km/h. O nosso piloto disse-nos que já chegou a atingir os 60 km/h, tudo depende do vento (um balão pode até ser muito mais veloz).
A manhã estava bonita, quente, com pouco vento, mas, pelo menos, tinha parado de chover. Tínhamos as melhores condições desde o início do festival: apesar de não se poderem atingir grandes velocidades, não havia turbulência e a viagem foi muito agradável.
Estivemos cerca de uma hora e meia no ar, a observar, em baixo, os campos molhados, as ribeiras que corriam furiosas e os outros balões, que coloriam os ares. A cada descida, eram os cães que ladravam à nossa proximidade, as ovelhas que se agrupavam em rebanho e fugiam, as galinhas das quintas que esvoaçavam espavoridas.
Andámos ainda algum tempo a rasar oliveiras, carregadinhas de azeitona preta, e azinheiras, à procura de um bom local para aterrar (e, consequentemente, a aterrorizar a fauna local). Os campos estavam demasiado enlameados e não nos queríamos atascar. Por outro lado, um bom local de aterragem tem de ser plano, limpo de árvores e próximo de uma estrada, de modo a que a equipa terrestre nos possa alcançar facilmente, minimizando assim o esforço no transporte do equipamento para o carro. O melhor que encontrámos ainda ficou a uns 20 metros da estrada, perto de Ervedal.
A aterragem é mais violenta que a de um avião: agarramo-nos às cordas internas do cesto, flectimos os joelhos e preparamo-nos para o impacto e para tombar para o lado, porque o equipamento termina exactamente na mesma posição do início.
Depois é sair e começar a desmontar o material. O balão tem de ser esvaziado, enrolado e enfiado dentro de um saco enorme. De vez em quando, sentamo-nos todos em cima dele, como num pufe, para expulsar os restos de ar. É um trabalho de equipa muito divertido. O saco fica muito pesado, com aquelas dezenas de metros quadrados de tecido, e são precisas seis pessoas para o conseguirem transportar, uma a pegar em cada alça. O cesto, de madeira e vime, também é muito pesado. Pelo menos as botijas chegam vazias.
Depois de tudo carregado no atrelado, uma pausa para descansar e contar histórias, ao som de sandes mistas e cervejas, que os belgas não fazem a coisa por menos. E depois voltar, por estrada, ao local de onde partimos.
Foi uma experiência fantástica, e o condimento imprescindível para sobreviver a uma semana de trabalho alucinante. Agora já sei: para o ano há mais, em Novembro, entre Cabeço de Vide, Fronteira, Sousel, Crato e Alter do Chão. É só olhar para cima. Ou melhor, novamente para baixo.

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