À noite no museu

O conceito já não é novo, mas em Portugal começa agora a dar os primeiros passos. Ao princípio, parece estranho: num sábado à noite, em vez do «'bora pròs copos», um «bute lá ao museu».
A minha primeira vez foi em Julho, durante o 41º Festival de Música e Dança de Sintra. Durante o intervalo do espectáculo Daqui em diante, da Companhia Olga Roriz, abriram-se as portas de ligação do Centro Cultural Olga Cadaval com o Museu de Arte Moderna, de modo a que o público pudesse visitar a exposição de arte contemporânea que então aí se apresentava (já agora, por que é que o Museu de Arte Moderna de Sintra não tem um site de jeito?). Fiquei fascinada com a experiência de entrar, quase sozinha, num museu quase abandonado, com obras a chamarem-me de todos os lados.
No sábado passado, dia 16 de Dezembro, foi a vez de o Museu Nacional de Arte Antiga abrir as portas, a partir das 21h00, para uma iniciativa a que chamou "Natal em Arte Antiga". 11 pontos de interesse, entre presépios, retábulos e outras atracções natalícias, foram alvo de visitas guiadas pelos funcionários do serviço educativo do museu. E dois momentos musicais, uma curta-metragem e uma ceia de Natal, a que não faltaram o bolo-rei, as rabanadas, as filhós e os sonhos, acompanhados por chocolate quente. Tudo de graça, ainda por cima!
O povo, de todas as idades, acorreu em peso (um inferno para estacionar nas Janelas Verdes!) e acotovelava-se em torno dos guias e das obras: as figuras de presépio de Barros Laborão e Machado de Castro, os retábulos atribuídos a Gregório Lopes, as caminhas do Menino Jesus, as esculturas medievais. E ainda a exposição "Frei Carlos e o belo portátil", que veio substituir a da Colecção Rau, que visitei em Maio, enquanto andava a fotografar vacas por aquelas bandas.
Contra as nossas especulações em relação a um patrocínio da Toshiba, o portátil referia-se a pinturas religiosas de pequenas dimensões, e por isso facilmente transportáveis (bom, o princípio é o mesmo). No caso, a pequena exposição gira em torno da mais recente aquisição do museu, um Ecce Homo, ou Senhor da Cana Verde, de Frei Carlos, um mestre luso-flamengo que professou em Évora, em 1517, no Mosteiro do Espinheiro, onde instituiu uma oficina. Em exposição, a dita pintura, acompanhada de fotografias de infravermelhos e raio-x da mesma, com as respectivas explicações, mais algumas obras do mestre e outras, dentro do mesmo género, de outros artistas da época.
Fugindo ao pelotão, ainda podíamos aventurar-nos por algumas das salas abertas e espreitar outras peças do museu, como os Painéis de S. Vicente, que todo o bom português deve admirar, de vez em quando, e as esculturas e cerâmicas de Andrea della Robbia.
Espero que a iniciativa tenha continuidade e se generalize.


Frei Carlos, Ecce Homo, c. 1520-1530
Óleo sobre madeira de carvalho, 39,5 x 31 cm
Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga

1 comentário:

Winterdarkness disse...

Curioso... Nietzsche tem uma obra tb intitulada "Ecce Homo". ;)