Mesmo aqui ao lado (I)
Puerta del Sol, Ciudad Rodrigo
É a sina de quem tem só um vizinho, bater-lhe à porta sempre que precisa de um pezinho de salsa, de caramelos, de gasolina ou de uma bilha de gás.
A primeira vez que fui ao estrangeiro, teria uns 5 ou 9 anos, já não me lembro; foi durante uma das duas visitas familiares a Trás-os-Montes, nos anos 70. Recordo, isso sim, e bem, o meu pai a saltar na linha da fronteira de Vila Verde da Raia: «Agora estou em Portugal, agora estou em Espanha!». E nós, crianças, maravilhados com a perversão geográfica, com a instantaneidade da viagem. A primeira vez que fui ao estrangeiro, fui a Feces de Abajo.
Depois, fui várias vezes a Badajoz, com paragem obrigatória, para caramelos, no supermercado Carvalho. Daí para a frente, foi aproveitar toda e qualquer proximidade da fronteira, como quando estive de férias em Melgaço e fui conhecer Ourense e Santiago de Compostela.
Ayuntamiento, Ciudad Rodrigo
Em 1999, trabalhava ainda na Guarda, aproveitei a Semana Santa para explorar as redondezas, nomeadamente, as aldeias históricas e, não resisti, o outro lado da fronteira.
A caminho de Salamanca, passei por Ciudad Rodrigo, a antiga Miróbriga de longa história. Noutra incursão, vagueei pela Sierra de Francia, com passagem pela aldeia histórica de La Alberca e subida ao Santuario de la Peña de Francia.
Não guardei grandes fotos e nem já fortes recordações; lembro-me que:
> Ciudad Rodrigo era interessante, com um centro histórico bonito e uma Plaza Mayor acolhedora;
Capilla de Cerralbo (Iglesia del Sagrario), Ciudad Rodrigo
> La Alberca era uma aldeia mimosa, com muito charme medieval e turismo. Comprei lá o meu saleiro da cozinha, em cerâmica tradicional, que tem resistido muito bem ao tempo (e ao pouco uso). Fui surpreendida por uma caveira e ossos humanos num nicho numa parede, mas já não sei reconstituir o contexto;
Plaza Mayor, La Alberca
> A história do Santuario de la Peña de Francia, no cimo da montanha com o mesmo nome (1723 m), gira em torno da imagem de uma Virgem negra (Morena, assim lhe chamam) aparecida, desaparecida, escondida e reencontrada. Lembro-me de uma imagem de Santiago, em ferro forjado, integrada na grade de um miradouro de onde se tinha uma vista fantástica da paisagem da Sierra de Francia. Lembro-me de, pela primeira vez, ter visto a chuva de fora, a cair numa grossa coluna, à distância.
Vista da Sierra de Francia, a partir do Santuario de la Peña de Francia