Amsterdam highlights: Het Scheepvaart Huis


Amesterdão (Holanda), Agosto de 2023

A Scheepvaarthuis, ou "Casa Naval", é um dos primeiros edifícios representativos da Escola de Amesterdão, movimento arquitectónico ligado ao Expressionismo que se desenvolveu nesta cidade, sensivelmente, entre 1913 e 1930. Foi listada no registo de Rijksmonumenten (Monumentos do Estado ou Monumentos Nacionais), em 1974, com o número 4158.
Erigido no local de onde, em 1595, Cornelis de Houtman zarpou para a sua primeira viagem às Índias Orientais, o edifício foi encomendado, em 1912, por seis companhias de navegação com sede na cidade -- Stoomvaart-Maatschappij Nederland (SMN), Koninklijke Paketvaart Maatschappij (KPM), Java-China-Japan Lijn (JCJL), Koninklijke Nederlandse Stoomboot-Maatschappij (KNSM), Nieuwe Rijnvaart Maatschappij (NRM) e Koninklijke West-Indische Maildienst (KWIM) -- para aí estabelecerem os seus escritórios. Estas companhias marítimas estavam todas envolvidas no comércio global, dizia-se até que as suas linhas combinadas circum-navegavam a Terra em várias direcções, a partir de entrepostos holandeses nas Índias Orientais e Ocidentais.
O local escolhido para a construção, situado na Prins Hendrikkade, na ponta ocidental da ilha artificial de Waalseiland, era perfeito, pois ficava perto de Oostelijke Handelskade, que era o cais onde os navios mercantes atracavam e de onde partiam. Contudo, a disponibilização do terreno obrigou à demolição de mais de uma dezena de edifícios.







Os contratantes pretendiam um edifício de escritórios prático, moderno e funcional que remetesse, simultaneamente, à rica tradição naval dos Países Baixos, exalando esplendor e força.
A concepção e a execução do edifício foram confiadas aos irmãos Johan Godart e Adolf Daniël Nicolaas van Gendt, que foram responsáveis pela implementação técnica e pelo design da estrutura de betão, em forma de navio, e a componente estética coube ao então relativamente desconhecido arquitecto Jo van der Mey.
Van der Mey inspirou-se no movimento Art Nouveau e deu-lhe um toque distintamente holandês, caracterizado pelo dinamismo expressivo, ornamentação luxuosa e enfeites coloridos. Este arquitecto ficou responsável pela coordenação do extenso programa simbólico e escultórico, tanto exterior quanto interior, no qual participou um grande número de artistas. A maior parte foi obra dos escultores Hildo Krop e H. A. van den Eijnde, mas participaram também outros artistas muito conhecidos, entre eles os arquitectos Michel de Klerk e Piet Kramer, que, em conjunto com van der Mey, formam o trio de fundadores da Escola de Amesterdão.
Ao convidar os seus colegas para trabalharem no projecto, van der Mey pretendeu transformá-lo numa Gesamtkunstwerk, ou obra de arte total. A equipa de artistas aplicou generosamente os motivos marítimos, até nos mais pequenos detalhes. Ondas, criaturas marinhas e navios aparecem em quase todos os lugares: não apenas em vitrais, esculturas e mármore, mas também em móveis e acessórios como tapetes, cadeiras e papel de parede. Tão-pouco faltou a tradicional pedra de fachada, com o lema Samen sterk, "Fortes juntos".









A primeira fase da construção da Scheepvaarthuis demorou três anos a concluir, de 1913 a 1916; a segunda fase, prevista no projecto original, desenrolou-se entre 1926 e 1928.
Em 1942, o edifício foi requisitado pela Administração Social alemã, que empurrou os escritórios das companhias de navegação para os pisos 3 e 4. A normalidade só seria restaurada com o fim da guerra, em 1945. Porém, o declínio dos transportes marítimos começou a pôr em causa a dispendiosa manutenção do edifício e, gradualmente, as companhias marítimas foram relocalizando os seus escritórios. A última saiu em 1981.
Em 1979, o edifício é adquirido pelo investidor imobiliário Maurits Caransa, que, em 1983, o vende ao município, que aí instala os escritórios da Companhia Municipal dos Transportes de Amesterdão (GVB). Para o adaptar às suas novas funções, o interior foi reformado no estilo predominante da época, com acréscimos que incluíam painéis de tecto em tons pastel, piso elevado, para instalação das ligações para os computadores, e faixas de iluminação.
Em 1998, o edifício vai novamente ao mercado e é adquirido pela família Van Eijl, proprietária dos hotéis e restaurantes Amrâth. A fachada é, então, restaurada, em colaboração com o Gabinete de Monumentos e Arqueologia, sob a supervisão da Van Hoogevest Architecten. Com a saída dos escritórios da GVB, em 2004, têm, então, início as obras para adaptação do edifício a hotel de luxo, com 205 quartos, incluindo 22 suites, 8 salas para conferências ou banquetes, um restaurante, um bar lounge, um centro spa & wellness, na cave, e uma adega, no antigo cofre-forte.
O projecto passa pelas mãos dos arquitectos da Rappange & Partners e, na terceira fase, em 2005, é confiado ao arquitecto Ray Kentie. A Kentie en Partners concentrou-se no mobiliário, interior e design das suites dos quartos monumentais. Ray Kentie inspirou-se no original e luxuoso estilo arte nova e, mantendo a tradição do Gesamtkunstwerk, convidou artistas como Gerti Bierenbroodspot e Christie van der Haak para completar a reforma.
Os trabalhos de restauro foram realizados em estreito contacto com o serviço municipal de conservação de monumentos. Além do restauro de muitos detalhes monumentais ainda presentes, o hotel foi projectado de forma a afectar o mínimo possível o carácter original do edifício. Por exemplo, o mobiliário original foi utilizado nos quartos mais monumentais, novos tapetes e revestimentos de parede foram concebidos com base em designs originais antigos e as casas de banho foram colocadas, como divisões de vidro, no meio de alguns quartos, sem os afectar.
As pinturas e esculturas de conchas, peixes, sereias e monstros marinhos de Bierenbroodspot podem ser vistas em todos os quartos e corredores, e há até golfinhos azuis de Delft pintados à mão no fundo da piscina. Gerti também desenhou as porcelanas utilizadas no restaurante. Já Christie van der Haak desenhou o mobiliário interior dos quartos, do restaurante e do bar e inspirou-se nos padrões de Theo Nieuwenhuis. Os guardanapos de damasco foram tecidos à mão nas oficinas do Museu do Têxtil. Um grupo de sereias em bronze, esculpido por Luigi Galligani, dá as boas-vindas aos clientes do restaurante Seven Seas.
O Grand Hotel Amrâth Amsterdam foi inaugurado em Junho de 2007. Em 2018, foi ampliado na parte traseira com uma nova ala projectada por Ray Kentie, com garagem e 40 quartos de hotel. A extensão conecta-se às paredes da fachada existente das casas em Binnenkant e Buiten Bantammerstraat e é projectada como edifícios diferentes com entradas próprias.



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