Papa-unescos (XXVII)

Salvador (Bahia, Brasil), Agosto de 2025
(55) Centro Histórico de Salvador (Brasil)
Como primeira capital do Brasil, de 1549 a 1763, Salvador da Bahia testemunhou a mistura das culturas europeia, africana e ameríndia. Foi também, a partir de 1558, o primeiro mercado de escravos do Novo Mundo, que eram trazidos para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar (e, posteriormente, para a extracção de ouro nas Minas Gerais). A cidade conseguiu preservar muitos edifícios renascentistas excepcionais. Uma característica especial do centro histórico são as casas coloridas, frequentemente decoradas com finos trabalhos em estuque.
Classificado pela UNESCO em 1985, o Centro Histórico de Salvador compreende a área do assentamento inicial da primeira capital do Brasil, com ruas e monumentos que constituem o maior conjunto arquitectónico do período colonial preservado na América Latina. É hoje um local muito turístico, com museus, lojas, centros culturais, igrejas, apresentações musicais, variadas opções gastronómicas e de hospedagem e comércio de souvenirs, por entre diversos casarões e sobrados coloniais.
Abrange as áreas do Pelourinho, Praça da Sé, Terreiro de Jesus, Largo de São Francisco e Santo António Além do Carmo.

Começando pelo Terreiro de Jesus (oficialmente, Praça 15 de Novembro), aí encontramos a Catedral-Basílica Primacial de São Salvador, antiga Igreja do Colégio dos Jesuítas, para onde se mudou a sede da arquidiocese, em 1765, após a expulsão da Companhia de Jesus. A antiga Sé, então em muito mau estado e à espera de reconstrução, viria a ser demolida, em 1933. A construção da actual catedral teve início em 1657, e a igreja foi inaugurada e consagrada em 1672, sendo considerada a mais imponente do século XVII no Brasil. A sua fachada maneirista foi construída com blocos de pedra de lioz trazidos de Portugal; o interior contém magníficos retábulos de talha dourada em estilos maneirista e barroco, destacando-se ainda o tecto de madeira esculpida e a sacristia. Abaixo, pormenores do altar-mor e da sacristia, forrada a azulejos do século XVII, com tecto em caixotões com pinturas decorativas, arcaz em jacarandá com pinturas de origem italiana sobre placas de cobre e retábulos em mármore, o que faz deste espaço, alegadamente, o mais rico de toda a arte barroca luso‐brasileira.


No centro da praça, em frente à Catedral, encontra-se um chafariz, em estilo neoclássico, inaugurado em 8 de Dezembro de 1856. Com sete metros de altura, o chafariz assenta numa base de mármore circular, de 15 metros de circunferência. Tem diversos elementos alegóricos que representam riquezas e características da Bahia: é encimado por uma escultura de Ceres, deusa da fertilidade e da abundância agrícola; a base dos seus pés é adornada com taboas, planta da família das Tifáceas, comum no Brasil; abaixo da primeira bacia de ferro fundido, estão quatro meninas de mãos dadas; mais abaixo, uma bacia poligonal ornada com delfins, guirlandas e conchas marinhas. As esculturas da base (duas de entidades femininas e duas masculinas), da autoria do escultor francês Mathurin Moreau, representam os quatro principais rios da Bahia: Jequitinhonha, Paraguaçu, Pardo e São Francisco.

Rodando no sentido horário, a antiga Escola de Cirurgia da Bahia (depois, Faculdade de Medicina), cuja inauguração foi decretada por D. João VI, em 1808, no antigo Hospital Real Militar da Cidade do Salvador, que ocupava o prédio do Colégio dos Jesuítas, construído em 1553. Porém, esse edifício perdeu-se num incêndio, em 1905, tendo sido substituído por outro, em estilo eclético com predominância de linhas neoclássicas, da autoria do arquitecto Victor Dubugras.

À sua direita, a Igreja de São Pedro dos Clérigos, construída pela Irmandade de São Pedro, entre 1802 e a década de 1890.

No seguimento, em frente à Catedral, a Igreja da Ordem Terceira da Penitência de São Domingos de Gusmão, construída entre 1730 e 1747, em estilo predominantemente barroco, sob a direcção do mestre pedreiro João Antunes dos Reis.

À sua direita, ao virar a esquina, entramos no Largo do Cruzeiro de São Francisco (também, Praça Anchieta), dominado pela Igreja e Convento da Ordem Primeira de São Francisco, cuja construção teve início em 1686 e que, devido à sua exuberante decoração interior barroca, é conhecida como Igreja do Ouro. Em Fevereiro de 2025, parte do tecto da igreja colapsou, causando um morto e cinco feridos e levando ao encerramento do complexo, que, por isso, não pudemos visitar.

Em frente à igreja, estende-se o Largo, um adro alongado, onde se localiza o cruzeiro, elemento importante para a liturgia franciscana e para a demarcação de um espaço urbano considerado sagrado. Dali, abre-se a vista para a Catedral.

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