As chaminés (série Robinson #3)


Portalegre, Maio de 2015

A cidade tem um perfil inconfundível na zona alta, como a dentadura duma chave. *
E tem mesmo, como eu já tinha lembrado aqui e como se pode ver no perfil que encima a página da Estratégia de Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Portalegre. Dois dos dentes que o tornam inconfundível são as chaminés da Robinson.



Vêem-se de quase todo o lado, como nesta fotografia, também da página da ERU, tirada do alto da Sé:



Ou nesta, tirada do lado do Ribeiro do Baco:


Portalegre, Junho de 2015

Tornaram-se ex-líbris da cidade, a par com o plátano do Rossio, a Sé e o Castelo, assim representados no cartaz que anunciou as comemorações do dia da cidade, em 2014:



Em 2015, Ano Europeu do Património Industrial e Técnico, foram o único elemento presente no cartaz das festas:



E foram escolhidas para encimar a nova sinalética urbana, recentemente colocada pela cidade:




Portalegre, Junho de 2015

E também para ilustrar a capa de um livro que esgotou edições, foi lido com avidez e gerou grande polémica entre os portalegrenses ("O filho da Lourdes e do Leonel! Como é que ele foi capaz de nos fazer isto?!"):


Capa realizada sobre fotografia de Raul Ladeira
O Sol cai, dos lados de Lisboa, e estende para leste um foco direito e quente sobre as chaminés da fábrica da rolha. Redondas, feitas de tijolinho sobre tijolinho em carrocel [sic], obra dos ingleses do século XIX. As chaminés apontam o céu como dois dedos de vitória. Ou um gigantesco par de cornos fumegantes, depende da disposição e do que nos lembra o momento, ao fim do dia. *
Lembro-me de quando cheguei a Portalegre, em Setembro de 1999, e da primeira vez que senti o cheiro do fumo da Robinson. Na altura, não sabia o que era, era um cheiro forte, adocicado, apetitoso, que me lembrou alheiras fritas — como estava com fome, veio mesmo a calhar. As minhas colegas fizeram-me notar que, mais uns tempos, e ia ter uma percepção diferente daquele cheiro. Tinham razão, claro: não tardou muito, passei a rezar para que o vento soprasse para outro lado, que levasse para longe aquele aroma enjoativo. Até que, um dia, em 2009, o fumo desapareceu, de vez, e a cidade nunca mais foi a mesma, para o melhor e para o pior. A Fábrica da Rolha fechou.
A fábrica das famosas chaminés gigantes da rolha... No sopé, assustam as crianças. Uma lança fumo preto e a outra fumo branco, fogo da queima e vapor de água. Preto, branco, como se estivessem indecisas quanto às notícias a dar ao Alentejo, ou mais uma desgraça, ou não. *



Portalegre, Maio de 2015


Programa do Dia Robinson de 2011


Quando ainda só havia um dente, com bola anti-fuligem
(imagem retirada daqui; mais imagens históricas aqui)


* Textos de Rui Cardoso Martins ([2006] 2007). E se eu gostasse muito de morrer. 3.ª edição, Lisboa: Publicações Dom Quixote, respectivamente, pp. 25, 187 e 188.

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