Cidades mimosas

Quando, há cerca de um ano, à mesa de almoço, discutíamos destinos de férias e eu disse que ainda não me tinha decidido entre a Escandinávia e o Benelux, a minha colega Maria José aconselhou-me o último: «Lá para cima, não há nada para ver. As cidades cá para baixo são mais mimosas».
É um facto que as cidades da Escandinávia têm um ar mais actual: foram originalmente concebidas em madeira, pelo que arderam e foram frequentemente reconstruídas ao longo da história. Mas não deixam de ter a sua personalidade. Outro facto é que, quando pensamos em turismo na Europa, vêm-nos à ideia monumentos, bairros históricos e museus recheados de pilhagens de guerras e invasões. Foi por isso que a minha amiga Marisa me disse que do que gostou mais na Finlândia foi da Estónia.

Tallinn

Tallinn, a cerca de uma hora e meia de barco de Helsínquia, ali mesmo em frente, do outro lado do Báltico, foi uma tentação: tirámos um dia de sol para um passeio simpático.
É uma perolazinha medieval, classificada como património da humanidade. Igrejas, edifícios medievais, ruas estreitas, miradouros, num centro histórico bem preservado. E um sentimento nacional que espelha o orgulho numa independência conquistada com dificuldade.
Uma visita guiada conduziu-nos aos locais mais turísticos da cidade:
> o recinto aberto, em Pirita, onde se realiza, de 5 em 5 anos, o Festival da Canção da Estónia, que, durante o domínio soviético, manteve vivo o espírito nacional;
> as muralhas da cidade, com as suas torres. Entre elas, a Kiek in de Kök (literalmente, "espreitadela na cozinha"), do alto de cujos 18 metros se acreditava poder ver, através das chaminés, o que se passava nas cozinhas da zona baixa;

Aleksander Nevski

> as várias igrejas: a catedral (Toomkirik); a igreja de Santo Olavo (Oleviste kirik), considerada, na Idade Média, um dos edifícios mais altos do mundo; a catedral ortodoxa de Aleksander Nevski; entre outras;
> a praça central, ou Praça da Câmara Municipal (Raekoja Platsi), rodeada por esplanadas e dominada pela Câmara Municipal (Raekoda), o edifício gótico não religioso mais antigo do mundo. Na praça, podemos encontrar também a segunda farmácia mais antiga do mundo (Raeapteek), ainda em funcionamento (ininterruptamente desde 1422, no mesmo lugar, mas não no mesmo edifício -- o actual tem cerca de 300 anos);
> as ruas chamadas Pikk jalg ("perna longa") e Lühike jalg ("perna curta"). Ligavam, na Idade Média, as duas cidades que, em 1889, foram unidas, dando origem a Tallinn: All-linn, a cidade baixa, pertencente à Liga Hanseática, e o monte de Toompea, o centro do poder e da nobreza. Pela Pikk jalg circulavam cavalos e carruagens, pelas escadas íngremes da Lühike jalg, os peões;
> o Museu da Cidade, que cobre a história de Tallinn, do século XIII aos anos 90. Gostei particularmente dos bonecos interactivos (com cordelinhos para puxar…), despretensiosos, e da sala sobre o domínio soviético, mordaz.

Pikk jalg

Nota (para quem ainda não reparou): Desde o último texto, as imagens passaram a ser legendadas por cima, basta pousar o rato.

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