Capela de São Mateus


Portalegre, Fevereiro de 2017

A Capela ou Igreja de São Mateus, na Corredoura de Cima, sempre me chamou a atenção, apesar de nunca a ter conhecido aberta. Encontra-se, desde Setembro de 2020, em vias de classificação como Monumento de Interesse Municipal.



Não é um templo muito documentado; a melhor fonte de informação encontra-se no Arquivo do Norte Alentejano, e reza o seguinte:
"Nascida no espírito de renovação artística ocorrido em Portalegre na segunda metade do século XVI, a partir da criação da diocese, a igreja de São Mateus situa-se na antiga Corredoura de Cima, hoje Avenida George Robinson, na vizinhança do antigo Mosteiro cisterciense de Nossa Senhora da Conceição, fundado por D. Jorge de Melo.
Templo de pequenas dimensões erigido dentro do espírito renascentista, deve remontar ao último quartel da centúria de quinhentos.
Do programa arquitectónico original resta-nos apenas o pórtico em granito, ao qual se acede por dois lanços de escadas laterais pelos quais se sobe até ao patamar de entrada. Tendo como decoração uma concha, como insígnia da Ordem de Santiago (dada a filiação desta igreja na paróquia de São Lourenço, dos Espatários), é assim descrito por Luís Keil (Keil, 1943: 128):
«O pórtico foi construído no gosto dos fins do Renascimento, com arco de volta redonda com dois medalhões circulares nos cantos, colunelos suportando a arquitrave e, sobre esta, um frontão / com volutas e conchas rematado por uma esfera. Aos lados vêem-se duas esferas maiores.»
A restante fachada (completada por uma pequena e singela sineira ligeiramente recuada) é bastante posterior, com destaque para o janelão emoldurado por decoração em massa, obra do século XVIII, época em que São Mateus foi, se não reconstruída, pelo menos remodelada na sua quase totalidade.
Possuía em 1758 os seguintes altares, ainda hoje existentes: «São Matheos como altar mor, e dois colatráis, à parte do Evangelho, a vera Cruz, e à parte da Epistola Santo Antonio [...]» (Sequeira, 1758 in Ventura, 1995: 128).
O interior apresenta a imagem que lhe foi dada no século de setecentos. Nave e capela-mor estão cobertas por abóbadas de berço, com sanca, sendo a do espaço destinado aos fiéis ligeiramente abatida. Os retábulos dos altares são de alvenaria pintada e dourada, com colunas marmoreadas e frontões interrompidos. Desde aqui até aos tectos, passando pelos rodapés, por um janelão oval fingido sobre a porta de entrada e pela moldura do arco que dá acesso ao presbitério, o trabalho decorativo em massa é elegante e abundante. A igreja possui ainda um púlpito destituído de interesse e uma pia de água benta concheada em mármore.
De entre o recheio da igreja de São Mateus são de destacar as seguintes peças, a necessitarem de uma exposição digna:
- a imagem do orago, em madeira pintada e estofada, do século XVII;
- uma escultura representando um santo franciscano (Santo António?), do século XVIII, em madeira e pasta de papel;
- e uma pintura sobre madeira, de razoáveis dimensões, obra com traços maneiristas, talvez de inícios da centúria de seiscentos, representando a Ressurreição de Cristo.
Este templo portalegrense esteve aberto ao culto até há poucas décadas. Está hoje fechado e sem prática religiosa, servindo de arrecadação e de espaço para a realização de algumas actividades de catequese organizadas pela paróquia de São Lourenço. Precisa sobretudo de limpeza e de obras de conservação no interior e no exterior." (Ventura, 04/12/2009)

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