O turista escocês
Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Novembro de 2019
Nunca escondi o quanto gosto do Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, dos seus habitantes e visitantes.
Há pouco mais de dois anos, detive-me a observar "uma gaivota-d'asa-escura (Larus fuscus) na borda de um dos tanques do jardim, reciclando o cadáver de um pombo-doméstico que, certamente, terá retirado das águas". Longe estava eu de imaginar que a história não ia ficar por aqui.
Olhos mais treinados que os meus aperceberam-se da "presença de uma anilha metálica na pata direita da gaivota e de uma anilha de plástico na pata esquerda", cuja "existência significa que aquela gaivota foi marcada no âmbito de um projecto específico", cujos promotores "pretendiam saber para onde migravam as gaivotas-d'asa-escura oriundas daquela região".
O Professor João E. Rabaça investigou e descobriu que o nosso amigo penudo "foi anilhad[o] no ninho enquanto juvenil em 20 de Junho de 2017 na cidade de Greenock, situada na região centro da Escócia à beira do estuário do rio Clyde, 40km a noroeste de Glasgow. O ninho estava localizado nos telhados do edifício da esquadra da polícia local".
O código alfanumérico inscrito na anilha (10S:C) tem o seguinte significado: "o termo '10S' corresponde ao ID da ave, pelo que lhe podemos atribuir o nome '10S'; o termo ':C' corresponde ao código do projecto". "De acordo com os registos de observação reportados ao coordenador do estudo, a gaivota '10S' foi detectada pela primeira vez na praia de Mira (concelho de Mira, distrito de Coimbra), em Novembro de 2018. Em 2019 foi avistada novamente mas desta vez no Jardim Gulbenkian, em 16 de Novembro – dia em que foi fotografada – e no dia 20 do mesmo mês. Em Fevereiro de 2020 e Janeiro de 2021 foi detectada no mesmo lugar."
Fascinante, não? A história toda pode ser consultada aqui.
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