Memória futura (4)






Vila Viçosa, Janeiro de 2023

Outra personalidade sobejamente homenageada em Vila Viçosa é o Dr. Couto Jardim.

João Augusto COUTO JARDIM nasceu em Vila Viçosa, a 16 de Agosto de 1879, numa casa da Rua de Santo António, filho do médico João Gomes Jardim, de família proveniente da Ilha da Madeira.
Em Julho de 1903, concluíu o curso de Medicina na Universidade de Coimbra e de imediato se deslocou para Vila Viçosa, onde exerceu a profissão de Médico ao longo de toda a sua vida.
Foi homem que cumpriu a sua missão com elevado profissionalismo e imbuído de um sentimento profundo de amor pelo próximo. Não se limitou a aplicar na sua prática clínica os conhecimentos aprendidos durante os anos de licenciatura, foi um estudioso durante toda a sua vida, procurando sempre contactar com os avanços e descobertas que, no campo da ciência médica, no país e no estrangeiro, foram tendo lugar. Era assíduo frequentador de congressos e encontros científicos, algo de invulgar para a época. Até ao final dos anos 20 do século passado, frequentou o curso de Radiologia da Universidade de Paris, de modo a ficar a par das potencialidades dessa nova técnica de diagnóstico clínico.
Foi pessoa séria, honesta, bondosa, de hábitos modestos, metódico e rigoroso no exercício da profissão, por todos adorado, como um santo. Quanto à sua dedicação e humanismo, um episódio passado pode servir de ilustração: ao oferecerem-lhe um automóvel, como forma de agradecimento pelos serviços prestados à comunidade, pediu aos calipolenses de quem partiu a iniciativa desse gesto generoso que não o levassem a mal, mas, como passava bem sem a viatura, pretendia vendê-la e com o dinheiro resultante adquirir um aparelho de radiologia para o Hospital de Vila Viçosa, o que concretizou, efectivamente.
De facto, sempre se mostrou nada interessado em possuir bens materiais e muitas foram as vezes em que deu consultas gratuitas, em particular aos que a ele precisaram de recorrer por motivos de saúde e não tinham meios de pagar o serviço prestado. Viveu sempre com o pouco que tinha, dando, quando podia, a quem mais precisava.
A doença dos seus pacientes era motivo da sua maior preocupação, sendo incansável na busca da melhor terapêutica para debelar as enfermidades. Por sua iniciativa, fazia visitas ao domicílio sem nada cobrar por isso. As situações de miséria com que, por vezes, se deparava, provocavam nele um sentimento de piedosa caridade, fazendo com que, para além de dar o seu melhor a título gratuito, partisse depois deixando todo o dinheiro que levava consigo.
Estas qualidades souberam os calipolenses reconhecer. Em 1953, foi organizada uma grande festa de homenagem em sua honra, por ocasião da comemoração dos 50 anos de exercício da sua actividade como médico em Vila Viçosa.
No fim da sua vida, quando deixou de trabalhar, muitas foram as dificuldades por que passou. Na doença, revelou-se invulgarmente lúcido e sereno. Faleceu aos 82 anos de idade, no dia 14 de Novembro de 1962. O seu funeral, desejou que sucedesse de forma simples e singela. Cumpriu-se a sua vontade. Deixou em testamento a sua casa na antiga Rua de Cambaia à Santa Casa da Misericórdia, para instalação de um jardim de infância.
O Doutor Jardim serviu de alma e coração e era servindo que ele se realizava. Devido à sua bondade e dignidade, nasceu pobre e morreu pobre de bens materiais, facto que o impediu de realizar uma obra assistencial grandiosa que era o seu sonho, que, apesar de projectado, não conseguiu, infelizmente, concretizar em vida. Vila Viçosa honrou a sua memória por várias vezes, atribuindo o seu nome a uma rua e a uma associação juvenil e cultural, ergueu-lhe uma estátua e escolheu o dia do seu nascimento, 16 de Agosto, para feriado municipal.

Janeiro de 2011

Há vários anos, tinha encontrado a placa acima; agora, cruzei-me com as que se seguem:





Também a visita do Santo Padre à vila, em 1982, mereceu um monumento de homenagem.




Vila Viçosa, Janeiro de 2023

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