Papa-unescos (XXV)


Cairo (Egipto), Agosto de 2024

(54) Cairo histórico (Egipto)

Porque o Cairo não é só caos e poeira, a UNESCO decidiu classificar e proteger o seu centro histórico, onde se encontram as marcas mais antigas das culturas islâmica e cristã copta. No Cairo islâmico, assume especial destaque a Cidadela de Saladino.


Salah ad-Din Yusuf ibn Ayyub, conhecido no Ocidente como Saladino, foi um grande guerreiro muçulmano de origem curda, fundador do Império Aiúbida, no século XII. Tornou-se sultão do Egipto e da Síria e liderou a oposição islâmica aos cruzados europeus no Levante. No auge do seu poder, o seu domínio abarcava os territórios do Egipto, Líbia (Tripolitânia e Cirenaica), Palestina, Síria, Iraque, Iémen e Hejaz. A sua fortaleza no Cairo foi construída entre 1176 e 1183, no topo da colina de Al-Muqattam (ou Mokattam), e sofreu diversas alterações, ao longo dos séculos. Na primeira foto, uma vista da Cidadela, junto à actual entrada dos visitantes, pela porta Bab al-Jabal. À direita, a Burj al-Muqattam, uma torre construída, aproximadamente, em 1525, pelo governador otomano Ibrahim Paxá, Grão-Vizir (primeiro-ministro) do sultão Solimão, o Magnífico (pormenor acima).


A maior atracção turística na Cidadela é, sem dúvida, a Mesquita de Alabastro, mandada construir, de 1830 a 1848, por Muhammad Ali (Maomé Ali ou Mehmet Ali). Este foi um governador e vice-rei otomano de origem albanesa que tomou para si o poder, no decurso de quatro anos de uma guerra civil cujo episódio mais sangrento teve lugar na Cidadela: convidou todos os líderes mamelucos (consoante as fontes, entre 470 e 700) para um banquete, no dia 1 de Março de 1811; no final, quando os convidados se preparavam para sair da fortaleza, os portões foram fechados, aprisionando-os no interior, enquanto regimentos dos seus homens armados albaneses abriram fogo de cima e massacraram-nos a todos. Para culminar a derrota dos seus inimigos, mandou destruir palácios mamelucos e, sobre os seus escombros, fez construir a sua mesquita.


A Mesquita de Muhammad Ali ocupa o lugar mais alto da Cidadela: é visível de toda a cidade e dali se tem das melhores vistas. À sua frente, mas num plano inferior, pode ver-se a Mesquita de al-Nasir Muhammad (Anácer Maomé), sultão mameluco que a fez construir, em 1318, para ser a mesquita real, onde os sultões do Cairo vinham fazer as suas orações de Sexta-feira.


Ainda mais abaixo, e já extra-muros, a Mesquita-Madraça do Sultão Hasan, construída entre 1356 e 1363, por ordem de an-Nasir Hasan, outro sultão da dinastia Bahri do Sultanato Mameluco do Cairo. À sua direita, a Mesquita de Al-Rifa'i, erigida entre 1869 e 1912.


Da esplanada da Mesquita de Alabastro, pode ver-se, também, a Bab al-'Alam (Porta da Bandeira, ou Bab al-Shorta, Porta da Polícia), datada de 1830-1882, que dá hoje acesso ao Museu Nacional da Polícia.


O Aqueduto da Cidadela do Cairo (ou Aqueduto Mameluco) é um sistema de aquedutos medieval que foi inicialmente concebido e construído durante o período aiúbida (Saladino e seus sucessores), mas posteriormente reformulado por vários sultões mamelucos para expandir o fornecimento de água à Cidadela. Embora já não funcione, grande parte da estrutura ainda está de pé.
A Cidadela do Cairo, além de monumentos históricos e museus, oferece um espaço privilegiado para eventos culturais, como o Festival da Cidadela de Música e Canto, que teve este ano, em Agosto, a sua 32.ª edição. Não acompanhei in situ, mas tive a oportunidade de ver em directo na televisão um espectáculo do dia 20, em que Fathy Salama e Mahmoud El-Tohamy apresentaram o projecto "Sufismo versus Modernismo". Belíssimo!

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