Cairo (Egipto), Agosto de 2024
Considerado o fundador do Egipto moderno, Muhammad Ali (4 de Março de 1769 - 2 de Agosto de 1849) foi o comandante militar de uma força otomana albanesa enviada para recuperar o Egipto da ocupação francesa. Após a retirada de Napoleão, Muhammad Ali subiu ao poder através de uma série de manobras políticas e, em 1805, foi nomeado Váli (governador) do Egipto e obteve o título de Paxá, governando o país de 1805 a 1848. Por meio de uma violenta purga dos mamelucos, consolidou o seu governo e encerrou definitivamente o domínio destes sobre o Egipto. Apostou fortemente na modernização do exército, para defender e expandir o seu reino, tendo-se envolvido em (e desencadeado) muitas guerras. No auge do seu poder, controlava o Egipto, o Sudão, o Hejaz, o Levante, Creta e partes da Grécia. Embora não tenha alcançado a independência formal do país, durante a sua vida, conseguiu considerável autonomia em relação ao Império Otomano e estabeleceu a sua descendência como governante do Egipto e do Sudão, durante quase 150 anos, o que tornou o Egipto um estado independente de facto. Fundou, assim, a dinastia alauíta, a última família reinante no Egipto e Sudão, entre 1805 e 1953.
Baixo relevo na parede da Esquadra de Antiguidades da Polícia do Cairo, na Cidadela (aqui), com a representação de Muhammad Ali (baseada no retrato de Jean-François Portaels, de 1847) e da sua Mesquita, encimada pelo símbolo da Polícia Egípcia, com a Águia de Saladino.
Muhammad Ali lançou as bases para um estado egípcio moderno, introduzindo grandes reformas nos planos militar, económico e cultural, entre elas, a reestruturação do sector agrícola, a construção de canais de irrigação para melhor distribuição das águas do Rio Nilo, a aposta no cultivo de algodão, o desenvolvimento da indústria têxtil, naval e de armamento, a instituição de uma burocracia central, de novas leis e impostos, a criação de um sistema educativo de tipo europeu que permitia a mobilidade social, a construção de infra-estruturas (barragens e caminhos-de-ferro, escolas e hospitais), a captação de investimento ocidental, etc.
A
Mesquita de Muhammad Ali é a maior mesquita otomana construída na primeira metade do século XIX. Foi mandada erigir por Muhammad Ali, em memória de
Tusun Pasha (em português, Tussune Paxá), seu filho mais novo e, aparentemente, favorito, falecido em 1816. A construção desenrolou-se entre 1830 e 1848, mas foi atrasada pela demência do velho Muhammad Ali, que, no último ano de vida, foi substituído na regência, sucessivamente, pelo seu filho mais velho,
Ibrahim Pasha (que, doente de tuberculose, morreu ao fim de uns meses), e pelo seu neto,
Abbas, filho de Tusun. Com a morte de Muhammad Ali, a sucessão passou para Abbas (Abaz I), que nunca escondeu o desprezo que sentia pelo avô e tentou reverter a maioria das suas realizações. Assim, só após o assassinato de Abbas, em 1854, e a subida ao poder do seu tio
Mohamed Sa'id Pasha, quarto filho de Muhammad Ali, é que a mesquita ficou concluída, em 1857.
Erigida no cume da Cidadela de Saladino, no local onde se situavam os palácios mamelucos, é a mesquita mais visível do Cairo. Possui uma cúpula central rodeada por quatro cúpulas pequenas e quatro semicirculares, ou meias-cúpulas, todas revestidas a chumbo. A planta do edifício é quadrada, medindo 41x41 metros, a cúpula central tem 21 metros de diâmetro e a altura do edifício é de 52 metros. Os seus minaretes gémeos são os mais altos de todo o Egipto, atingindo cada um uma altura de cerca de 84 metros.
O principal material de construção da mesquita é o calcário, provavelmente, proveniente das Grandes Pirâmides de Gizé. Contudo, é conhecida como "Mesquita de Alabastro", em referência aos painéis de alabastro que revestem as paredes interiores e exteriores, do piso inferior e do pátio, até uma altura de 11,3 metros. Os painéis de alabastro das paredes superiores foram retirados e utilizados nos palácios de Abbas I, antes da conclusão da mesquita. As paredes despojadas foram revestidas com madeira pintada para parecer mármore.
O projecto da mesquita foi, segundo algumas fontes, confiado a um arquiteto grego de origem bósnia (ou turco), Yusuf Buchnaq. Auxiliado por um engenheiro egípcio chamado Ali Hussayn, delineou planos para um edifício inspirado nas grandes mesquitas imperiais de Istambul, e mais concretamente na Mesquita Azul, com a qual existem muitas semelhanças. A mesquita foi construída ao estilo turco otomano, consistindo num pátio aberto (sahn) e numa sala de orações. Embora existam três acessos de cada lado do pátio, a entrada é feita habitualmente pelo portão nordeste.
A sala de orações é espaçosa e desobstruída: como as orações são feitas sobre tapetes, não há bancos nem genuflexórios a atravancarem a circulação. Além disso, a utilização de dois níveis de cúpulas proporciona uma sensação de espaço muito maior do que realmente existe. A cúpula central ergue-se sobre quatro arcos assentes em pilares colossais; existem quatro cúpulas semicirculares, em redor da cúpula central, e quatro cúpulas mais pequenas e pouco profundas, nos cantos. As cúpulas são pintadas e embelezadas com motivos em relevo. A mesquita tem ainda a particularidade de possuir dois mimbares (púlpitos): o original é feito em madeira de cedro entalhada, dourada e decorada a verde; o outro, de alabastro, foi uma adição posterior, executada a pedido do rei Farouk.
Junto à entrada, do lado direito, encontra-se o túmulo de Muhammad Ali, esculpido em mármore de Carrara e rodeado por uma grade de bronze, realizada no final do século XIX. O corpo foi para aqui transferido, quando a mesquita foi concluída, em 1857.
Em 1899, o aparecimento de fissuras indiciava defeitos no projecto do edifício. A sua multiplicação pôs em causa a segurança e tornou essencial uma campanha de restauro radical, no reinado de
Fuad I. Foi decidido demolir parcialmente as cúpulas e reforçar as fundações do edifício, antes de as reconstruir à semelhança das originais. As obras começaram em 1931 e só foram concluídas oito anos depois, durante o reinado de
Farouk I, em 1939.