Lembranças do Rio de Janeiro (IV)

As praias do Rio são lindas. Nos primeiros dias, devido ao mau tempo, estavam um tanto desconsoladas, vazias e cinzentas. Mas houve uma coisa que me chamou a atenção, que foi a extrema limpeza dos areais. Não havia uma beata, um pau de gelado, um papelinho, um vidrinho a conspurcar ou desestabilizar tamanha calma.
Tratei logo de bradar contra a falta de civismo dos portugueses, que, pondo o rótulo de biodegradável em todos os detritos, enterram-nos escrupulosamente na areia, com os riscos subsequentes para os mais desprevenidos. No Rio, nem caixotes do lixo avistáveis. Notável! Imaginei os cariocas a levarem para casa os restos do dia, para os depositarem nos ecopontos domésticos.
No fim-de-semana, o tempo melhorou e as praias encheram-se de gente. De gente e de lixo. Os caixotes eram, de facto, dispensáveis, porque todos os detritos eram espalhados pela areia, que, no final do dia, mal se podia vislumbrar. Fiquei sem fala...
E fiquei à espera de ver aparecer, pela noite, a fada ecológica que miraculosamente devolveria às praias a pureza ancestral. Em vez dela, vi surgir um batalhão de homens e mulheres, armados de ancinhos e sacos de plástico, que, alinhados do calçadão até à beira da água, varreram escrupulosamente as praias, intensamente iluminadas por holofotes. Depois da sua passagem, as luzes apagaram-se e as praias ficaram calmamente à espera. Talvez de Iemanjá, ou dos banhistas do dia seguinte.


Praia de Ipanema

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