#TBT: Ponte 25 de Abril, 2003














Lisboa, 17 de Março de 2003

Nunca fui grande atleta, nem pequena, de resto, mas lembro-me de que, a última vez que disse, alto e bom som, que não gosto de desporto, fui fuzilada com olhares de reprovação e críticas ferozes. Foi no Verão de 2014, na Dinamarca, num ameno piquenique de Domingo, entre amigos furiosamente aderentes à nova vaga de devoção pela máxima que faz equivaler a sanidade do corpo à da mente, ou vice-versa. Eu, que não consigo encontrar qualquer tipo de sanidade em nenhum tipo de devoção, mas também não queria estragar o clima da tarde, calei-me, mas fiquei na minha: as maleitas do corpo, que as tenho, atribuo-as mais à idade do que ao sedentarismo. De resto, se me puser a pensar nos males de que já vi padecer quem à minha volta se converteu ao ginásio, desde contusões feias a fracturas ósseas, concluo que estou bem melhor assim.
Portanto, não foi pela paixão do desporto que me inscrevi na 10.ª Mini Maratona de Lisboa Correio da Manhã: tinham-me assegurado que não era preciso correr, que muita gente ia mesmo só pelo passeio, para conhecer a ponte pelo seu próprio pé e para tirar fotografias. Ah! Isso já era outra coisa! Andar e caminhar são a minha praia (mesmo na praia), e nunca me lembraria de lhes chamar desporto (a minha médica chama-lhe exercício e recomenda-mo, e eu fico bem contente, que a alternativa era a hidroginástica, credo!).
E lá fui eu, com dorsal numerado e tudo, medalha à chegada, foto comemorativa e todo o figurino.
Se bem me lembro, fomos de comboio, de Entrecampos até ao Pragal, descemos a pé até ao Largo da Portagem da ponte, onde nos juntámos à malta que se agigantava, à espera do sinal de partida.
E lá fomos, cantando e rindo, uns correndo, outros andando, outros parando para bater chapas, em amena cavaqueira. O tempo não estava grande coisa, estava húmido e enevoado, e as fotos não ficaram grande espingarda, mas sempre serviram para mais tarde recordar, como se comprova pelo mais tarde, que é agora.
Lembro-me de que, sensivelmente, a meio da ponte, comecei a marear, mas depressa percebi que não era a única: à minha volta, só ouvia comentários de quem se sentia tonta, com náuseas. Senti-me, sobretudo, muito burra, por não ter percebido a tempo que aqueles milhares de pessoas a mexerem-se sobre uma ponte suspensa tinham, forçosamente, de a fazer abanar. E pior fiquei quando tive de admitir que nunca me tinha dado conta da oscilação da ponte, nem a conduzir, nem quando era conduzida. Incrível! A partir desse dia, passei a prestar mais atenção, e ela lá se começou a fazer notar, a tal oscilaçãozinha.
Foi uma manhã divertida, foi bom chegarmos aos jardins do Mosteiro dos Jerónimos e sermos recebidos com simpatia, medalhas e garrafas de água, e podermos descansar nos relvados. A propósito, não faço a mínima ideia de quanto tempo me levou o percurso.
Comecei logo a fazer planos para o ano seguinte, mas nunca mais voltei. Certamente, um dia (11 de Março de 2018?).

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