Um São José de azulejos (21)


Portalegre, Março de 2017

Ao decidir dar esta série por terminada, pensei guardar para o final alguns exemplares mais insólitos. O primeiro, um caso de devoção partilhada, o único que encontrei. Depois, um São José que, mesmo à distância a que o fotografei, me parecia algo desconjuntado, com mãos a sobrarem por todo o lado, como um abraço de polvo:


Portalegre, Março de 2017

Nada que um editor de imagem muito básico não resolvesse em três tempos: o de retirar a fila mal colocada, o de a virar 180º e o de a recolocar no sítio correcto. E pronto, cá temos uma cena de verdadeira ternura familiar:



Este puzzle mal construído trouxe-me à ideia outra composição que já por aqui tinha passado, sem que eu conseguisse sequer perceber o que retratava. Aparentemente, trata-se de um reaproveitamento de azulejos de alguma igreja ou capela destruída, como também parece ser o caso aqui.


Monforte, Maio de 2016

No caso presente, se nos abstrairmos da cercadura, toda ela muito desconjuntada, a figura central mostra-se também algo confusa, novamente com uma estranha profusão de mãos:



Mas, com dois toques de magia, ficamos com uma Santa Ana a aprender as Escrituras com a Virgem Menina:



Mais insólito ainda, será o caso aqui abordado, que não carece de mais explicação:


Castelo de Vide, Junho de 2016

Para finalizar, os últimos que encontrei:










Portalegre, Abril de 2017

Quando iniciei esta recolha de azulejos hagiográficos, fui movida pela curiosidade de verificar a vitalidade desta tradição nas casas portuguesas. E posso confirmar que é uma tradição que se mantém bem viva: juntando os que recolhi nesta série e outros dispersos, conto já com 166 representações de santos, de 15 concelhos diferentes (Amadora, Avis, Borba, Castelo de Vide, Castro Marim, Ferreira do Alentejo, Fronteira, Lisboa, Marvão, Monforte, Nisa, Ponte de Sor, Portalegre, Sines e Viseu), se bem que, por uma questão de proximidade, a maioria foi encontrada em Portalegre. Seja talvez por essa razão, é o Santo António (o seu padroeiro) o mais representado (26), seguido por Nossa Senhora de Fátima (18), São João (16), e só depois vem São José (15).
Até prova em contrário, inclino-me a acreditar que Reinaldo Ferreira (filho) elegeu o São José de azulejos por uma questão de métrica, que o Santo António dava-lhe cabo da redondilha maior.
Por outro lado, se juntarmos todas as diversas formas de representações marianas, temos 44, o que coloca a Rainha de Portugal na posição da frente (mesmo sem contar com a sua presença em 10 cenas de Sagrada Família).
Quando digo que quero dar esta série por terminada é por estar cansada das repetições e da monotonia dos modernos painéis de seis azulejos, produzidos por impressão em série, de valor estético muito questionável, que, por menos de 15 euros, se encontram facilmente, por exemplo, aqui. Mas mantenho o interesse nas representações antigas (este São Zacarias é um dos meus favoritos), nos santos menos comuns (ainda estou à espera de encontrar os Três Pastorinhos ou o Doutor Sousa Martins) e naquilo que poderei encontrar em localidades que ainda não explorei, ou só muito pouco. Desses, ainda por aqui hão-de passar.

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