O Japão e a arte


Ogata Kōrin, Ácer e pinheiros-negros, século XVIII

Pouco antes de ir ao Japão, numa consulta a um dos meus médicos, contou-me ele a sua experiência recente no País do Sol Nascente: tudo extremamente caro, uma maçã custava uma exorbitância, uma cultura muito diferente, com preceitos de etiqueta muito rigorosos, e uma abordagem da arte estranha para os ocidentais: não tinham museus, as obras mais notáveis eram rolos pintados e biombos, que podiam ser vistos, sob convite, em castelos antigos. Escusado será dizer que passei o meu tempo no Japão a testar a conformidade desta descrição.
Encontrei um país caro, sem dúvida, sobretudo no que diz respeito a produtos estranhos à sua cultura. A fruta é pouco comum na alimentação local, à excepção da melancia e das cerejas, que só comemos em conserva. Toda a restante fruta é produto de importação, considerado exótico, e por isso caro. Já o preço da comida local era aceitável. E, por acaso, num dia em que passámos pela montra de uma agência imobiliária, a minha amiga ficou pasmada quando percebeu que conseguiria, em Tóquio, arrendar um apartamento por um valor inferior ao que pagava em Lisboa.
Quando à inexistência de museus, bem, não sei de onde surgiu essa ideia, que os há, e não são poucos, em Tóquio, em Quioto e no resto do país.
O primeiro que visitámos foi o Jardim das Belas-Artes, em Quioto, também conhecido por Museu das Belas-Artes (Garden of Fine Arts), concebido por Tadao Ando, em 1994. É um complexo de betão, vidro, aço e água, ao ar livre e com vista para o Jardim Botânico, onde se pode apreciar reproduções, em painéis de cerâmica, de obras-primas da arte ocidental e oriental. É muito bonito, como se pode ver aqui.




Garden of Fine Artes, Quioto (Japão), Agosto de 2004

Em Hakone, visitámos o Museu ao Ar Livre (The Hakone Open-Air Museum), um parque grande e muito bonito, onde são apresentadas mais de cem obras de escultura de dezenas de autores modernos e contemporâneos. E ainda um pavilhão dedicado a Picasso, com um espólio de mais de 300 obras, sobretudo de cerâmica, e uma das maiores colecções do mundo de obras de Henry Moore. Vale a pena espreitar, aqui.










Hakone (Prefeitura de Kanagawa, Japão), Agosto de 2004

Em Tóquio, visitámos o Museu de Arte Fotográfica (Tokyo Photographic Art Museum) e não resistimos aos cartazes que, por toda a cidade, publicitavam o grande evento do momento, no MoMAT (National Museum of Modern Art, Tokyo): a exposição RIMPA. Dedicada à escola homónima de pintura japonesa do século XVII e às suas influências na arte moderna e contemporânea, esteve aberta ao público entre 21 de Agosto e 3 de Outubro de 2004, contou com 81 obras de 39 artistas, e foi uma das exposições mais bonitas que eu alguma vez vi. Ainda guardo com carinho o catálogo bilingue japonês-inglês que carreguei o resto da viagem, organizado de trás para a frente, como é normal nos livros japoneses (também guardei para mim um dos livros de manga que comprei, e cuja leitura, devido a essa mesma orientação, me atrapalhou, ao início).
Entre os autores representados, os incontornáveis Ogata Kōrin e Tawaraya Sōtatsu, assim como outros pintores japoneses, do século XVII ao século XX, mas também Gustav Klimt, Odilon Redon, Koloman Moser, Pierre Bonnard, Henri Matisse e Andy Warhol, numa continuidade que atravessou séculos, continentes e culturas.
Decididamente, não me faltou arte, no Japão.


Ogata Kōrin, Tigre e bambu, século XVIII


Pormenor de um extenso rolo de poemas, com caligrafia de Hon'ami Kōetsu e
pintura com grous de Tawaraya Sōtatsu, século XVII

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