#TBT: Pisão, 2005




Pisão (Crato), Março de 2005

Entre 2002 e 2006, um projecto inter-ministerial levou-me a integrar várias equipas que intervinham directamente nas escolas, a que um dia se chamou primárias, do distrito de Portalegre. Todas as semanas, arrancávamos, um dia pela manhã, e íamos pelos campos fora até uma das escolas que nos estavam destinadas. Passei por todas as dos concelhos do Crato (Crato, Gáfete, Pisão, Flor da Rosa, Vale do Peso, Aldeia da Mata e Monte da Pedra) e de Alter do Chão (Alter, Chança, Cunheira e Seda) e duas do concelho de Elvas (Barbacena e Vila Fernando). À excepção das das sedes de concelho, eram todas escolas de freguesias rurais, com professores deslocados e meninos de aldeias e montes. Aos poucos, vi os professores e as auxiliares excederem em número os meninos; vi aldeias onde já só havia uma criança, cujos pais os velhotes queriam convencer a que não a transferissem para uma escola maior, para que não desaparecesse a última réstia de alegria. Nas paredes, algumas salas ostentavam ainda fotografias de grupo dos tempos em que os alunos excediam as duas e três dezenas. Todos os anos se temia a ordem que se sabia que havia de chegar e que ditaria o encerramento da escola; os alunos seriam transferidos para as escolas das sedes de concelho e os velhotes ficariam com mais tempo para perscrutar o silêncio.
O Pisão esperava ainda mais alguma coisa: a muito adiada decisão de construir a grande barragem da Ribeira de Seda, que submergiria a aldeia.
A escola fechou, há já muitos anos, mas da barragem não há sinal. Ao que parece, os estudos exploratórios começaram em 1958; pontualmente, por alturas das eleições, entra no rol de promessas, mas não sai daí.
No café do Sr. Felizardo comia-se bem, e a menina dele era muito querida. Encontrei-a num álbum perdido, no meio de fotografias tiradas num Dia Internacional da Mulher em que a Junta de Freguesia mandou entregar um ramo de botões de rosa para os meninos distribuírem pelas senhoras da aldeia. Acompanhei-os aos três -- ela, o irmãozinho mais novo e o último colega de escola --, registei os momentos, para ilustrar a descrição que faríamos da actividade, e fugiu-me a objectiva para um pormenor desgarrado ou outro. Que me lembre, é tudo o que me sobrou desses tempos.




Na estrada, numa das nossas viagens, Fevereiro de 2005

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