Vive selvagem


Cedillo (Cáceres, Espanha), Março de 2019

Nos meus percursos e caminhadas, costumo fotografar tudo aquilo que acho bonito, e só mais tarde, com tempo e paciência, é que me dedico a tentar perceber o que agarrei. Muitas vezes, guardo nos meus álbuns verdadeiras preciosidades, sem o saber. Foi assim com a fotografia da erva-abelha, que reencontrei recentemente e que, pela forma característica da flor, consegui identificar como uma orquídea.
Para mim, o universo das orquídeas esgotava-se, até então, no meu cimbídio (que, curiosamente, este ano não floriu) e nas orquídeas-borboletas da minha mãe. Porém, enquanto procurava identificar aquela Ophrys, descobri o mundo maravilhoso das orquídeas silvestres. Com a ajuda desta página, que permite perceber a variedade delas que existe nos nossos campos, consegui identificar uns exemplares de Anacamptis pyramidalis que me lembrava de ter encontrado na Primavera passada.






Cedillo (Cáceres, Espanha), Março de 2019

Nessa altura, lembrei-me de vasculhar os álbuns, a ver o que me poderia ter escapado, e encontrei as imagens acima, apanhadas numa caminhada entre Cedillo e Montalvão, mas que tive dificuldade em identificar. E foi, então, que percebi que precisava de ajuda, e desencaminhei uma pessoa, que me indicou outra, e a colecção começou a crescer.
As orquídeas de Cedillo são, segundo Ivo Rodrigues, cujo auxílio muito agradeço, exemplares de Anacamptis picta ([Loisel.] R.M.Bateman). Como sempre, fui investigar um pouco e descobri que a classificação desta espécie tem sofrido grande evolução, desde o basónimo, Orchis picta (Loisel., 1827). Já neste século, adquiriu os seguintes sinónimos: Anacamptis morio subsp. picta ([Loisel.] Jacquet & Scappat., 2003), Anacamptis picta ([Loisel.] R.M.Bateman, 2003), Herorchis morio subsp. picta ([Loisel.] D.Tyteca & E.Klein, 2008), Herorchis picta ([Loisel.] P.Delforge, 2009). Enfim, seja qual for o nome que se lhe dê, espécie ou sub-espécie, é bem bonita.
E, com isto, peguei o bichinho ao Rui Cambraia, que começou uma belíssima colecção, da qual partilhou comigo alguns cromos, a saber, todos os que mostro abaixo.




Calçada entre Castelo de Vide e Marvão, Abril de 2020

Estes primeiros são exemplares de Orchis langei (Lange ex K.Richt.), que, como não podia deixar de ser, tem uma simpática lista de sinónimos, dos quais o mais habitual é Orchis mascula subsp. laxifloriformis (Rivas Goday & B.Rodr.) (mais informação aqui e aqui).
A verdade é que algumas espécies têm grandes semelhanças, e que a coexistência de espécies numa mesma região redunda, frequentemente, em hibridismo, e por isso a sua classificação é tudo menos fácil.
Já os próximos exemplares pertencem a um género bem diferente e são classificados como Serapias cordigera (L., 1763):




Alvarrões (São Salvador da Aramenha, Marvão), Maio de 2020

Entre os seus nomes comuns, contam-se: serapião-de-flores-grandes, erva-língua, erva-língua-maior, longoeira e bico-de-queimado. O nome da espécie, cordigera, significa, em latim, "que tem forma de coração", daí os nomes comuns em espanhol (serapias en corazón), francês (sérapias en cœur), inglês (Heart-flowered serapias) e alemão (Herzförmiger Zungenstendel, literalmente, algo como "caule de língua em forma de coração") (mais informação aqui e aqui).
A próxima foto retrata outra espécie de Serapias, a S. parviflora (Parl., 1837), que, como o próprio nome diz, tem a flor menor, e é conhecida como serapião-de-flor-pequena ou serapião-de-língua-pequena (mais informação aqui, aqui e aqui).


Serra da Adiça (Vila Verde de Ficalho, Serpa), Maio de 2020

E, como frequentemente acontece, os últimos são os primeiros, e eis outro exemplar de Ophrys apifera, a encerrar esta colecção (mais informação aqui e aqui):


Serra da Adiça (Vila Verde de Ficalho, Serpa), Maio de 2020

Muito obrigada, Rui, pelas fotos e pelo entusiasmo! Mais desafios em breve.

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