And then they were gone


Portalegre, 28 de Abril de 2020

Duas terças-feiras depois, e após uns dias de grande insistência materna, deixaram o ninho. De manhã, ao abrir a janela, deparei-me com este no chão, do outro lado do vidro. Corri a apanhar a câmara, mas, antes que conseguisse um registo melhor, ele atirou-se, a esvoaçar, da varanda abaixo. Espreitei, aterrorizada, e vi-o a saltitar pelos parapeitos das janelas dos vizinhos, até chegar ao solo, sempre sob supervisão da mãe. Passaram o dia à volta de um automóvel estacionado, ora debaixo dele, ora ao ar livre. Curiosamente, ao longo desse dia, a mãe respondia-me, sempre que a chamava. Acho que se estava a despedir.
No dia seguinte, estava tudo calmo, não os voltei a ver. Desconfio que aquele filhote foi o último a abandonar o ninho, e que os excrementos que andavam a aparecer no chão da varanda eram um indício de que aquela não era a primeira saída. A ausência do pai também me levou a crer que os filhos estavam a ser criados em regime de guarda partilhada.
Na sexta-feira à tarde, ouvi uma chinfrineira familiar que vinha da varanda. Corri para lá e ainda vi um juvenil pousado, e o pai a insistir para que o seguisse. Quero acreditar que eram os meus inquilinos, que vieram verificar o correio. Espero que regressem depressa.


Portalegre, 1 de Maio de 2020

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