Coreto das Alhadas








Alhadas (Figueira da Foz), Junho de 2022

Às vezes, gostava que as coisas fossem só aquilo que aparentam, sem grande história, só o que os olhos alcançam. Não sei se é de mim, mas cada objecto, cada ser, vivo ou inanimado, cada lugar, tem uma história para me contar.
Foi assim com o Coreto das Alhadas. Não o tendo encontrado no meu repositório de eleição, pedi informações ao Google, e elas não tardaram a aparecer e a compor mais uma história interessante.
Ao que parece, o coreto esteve na Figueira da Foz, junto ao cais, antes de, em 1926, ter sido transferido para as Alhadas:


(imagem retirada daqui)

Ricardo Santos, no Diário As Beiras (sem data), conta assim as peripécias do coreto:

"Se estiver em Alhadas de Baixo e alguém lhe disser que o coreto do Largo da Boa União assistiu, ao vivo e a cores, ao violento incêndio que destruiu o Teatro Príncipe D. Carlos, fique a saber que não se trata de nenhum delírio histórico.
A aparente impossibilidade ganha credibilidade se atentarmos nas imagens da Figueira dos inícios do século XX. Junto ao cais, o imponente edifício do Teatro Príncipe, inaugurado em 1874, marcava a paisagem. Defronte à fachada sul, onde hoje se situa a Fonte Luminosa, um coreto impunha a sua presença.
Era esta a paisagem urbana da cidade quando, na madrugada de 25 de Fevereiro de 1914, após um espectáculo de carnaval, um incontrolável incêndio destrói por completo o teatro, à data sede do Ginásio Clube Figueirense.
O coreto subsiste até que, em 1926, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal, presidida por José Pedro Fernandes Júnior, lhe dita um novo destino. Delibera autorizar que a direcção da Sociedade Boa União Alhadense remova o coreto para a povoação das Alhadas de Baixo, ficando a seu encargo as despesas da remoção e de conservação futura. Não obstante, salvaguarda a propriedade municipal da estrutura.
E assim viajou do Largo Dr. Nunes para as Alhadas o velho coreto, que logo nesse mesmo ano é instalado no terreno contíguo à sede da Boa União. A deliberação camarária premiava o trabalho da colectividade junto da comunidade e adivinhava o relevante contributo do movimento associativo popular na salvaguarda do património local."
Há pouco tempo, o Coreto das Alhadas foi requalificado, juntamente com o centro da vila. Em Outubro de 2019, a propósito das obras que se avizinhavam, o Presidente da Junta de Freguesia, Jorge Bugalho, terá esclarecido, "para descansar a população, [que] o coreto vai manter-se no sítio onde está". Estou em crer que esta afirmação tinha como intuito evitar a polémica que se havia gerado, na Figueira da Foz, no seguimento da reestruturação do Jardim Municipal e da consequente destruição do coreto que aí existia.
O Coreto das Alhadas ficou bem bonito, mesmo não tendo as obras seguido o plano que o Presidente da Junta revelou ao Diário de Coimbra de 14 de Janeiro de 2015 (p. 15):
"O coreto também faz parte deste projecto de requalificação, sendo revestido em três frentes a azulejo «de forma a que fique perpetuado o dólmen, a fonte de S. João e uma outra imagem a definir». Ao seu lado, serão criados canteiros para flores, «para embelezar e dar dignidade a um espaço de convívio dos idosos que queremos acarinhar»."
Antes das obras, o coreto estava assim:


(imagem retirada daqui)

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