Fonte Nova em Trancoso

Trancoso, Agosto de 2022

A Fonte Nova consiste numa estrutura em cantaria de granito que se localiza no exterior da muralha, "na zona inferior de um terreno arborizado e declivoso, também utilizado para a realização da feira e que fazia parte do antigo Campo da Vila. Desenvolve-se segundo um pequeno recinto murado e gradeado, com alguns bancos adossados, situado um pouco abaixo do nível do caminho público. Quase colidindo com este recinto ergue-se o muro do edifício do Centro de Saúde".



Segundo a descrição técnica, é uma fonte que "associa o espaldar a uma organização volumétrica em forma de templete. Com o espaldar liso adossado ao muro e orientado a NO. apresenta planta quadrada definida por sete colunas toscanas que suportam a cobertura. As colunas assentam sobre plintos almofadados (...). Sobre as colunas desenvolve-se um entablamento alto com dois frisos lisos e arquitrave de grandes dimensões, ornamentado nos quatro ângulos por gárgulas tubulares. No lado exterior a cobertura é piramidal com ornatos curvilíneos, rematados por pequenas volutas, que se unem numa peanha vazia colocada no vértice. Internamente possui abóbada em cúpula semi-esférica, mas desprovida de trompas, apenas incluindo um friso circular com cantoneiras. O espaldar possui duas bicas, resumidas ao orifício e encimadas pela pedra com as armas reais. O tanque rectangular encontra-se quase enterrado no solo, sendo o acesso feito através de um pequeno lanço de degraus lançado ao nível dos plintos da colunata".





O painel informativo colocado ao lado da fonte acrescenta mais alguns detalhes interessantes:

"Inserida na vasta área a sul das muralhas designada por Campo da Feira, no espaço onde ainda hoje tem lugar a feira semanal, a Fonte Nova foi edificada em 1589. De arquitectura renascentista, tipologicamente, associa o espaldar -- liso e com escudo régio -- a uma organização volumétrica em forma de templete, definida por sete colunas toscanas.
Na zona frontal, os plintos sobre os quais assentam as colunas estão decorados, dois deles com cartelas epigrafadas, uma com o ano de construção da fonte e outra com a inscrição DEVS AJVDAME. Segundo as Memórias Paroquiais do século XVIII, a cobertura piramidal da fonte seria coroada com hua grande figura de homem feito de pedra, a que chamavão o João Durão, nome pelo qual também era conhecida a fonte.
À semelhança de outras fontes e chafarizes da vila, o abastecimento de água à Fonte Nova é assegurado por um notável sistema de captação, disperso pelo subsolo do espaço envolvente. Tendo em conta o que se conhece, este será formado por três canos ou aquedutos (galerias subterrâneas que conduzem a água desde as nascentes até às bicas da fonte) e por, pelo menos, três arcas (aberturas que permitem o acesso ao interior das galerias).
Apesar da má qualidade das suas águas, que, segundo um testemunho de 1732, causavam muitas cólicas e terçans abertas, esta fonte e as estruturas a ela associadas não deixaram de ser restauradas ao longo dos tempos, como se verificou, por exemplo, em 1683 e 1853, mantendo-se funcionais até hoje.
As fontes foram desde sempre um local privilegiado para o despertar e alimentar de amores, sendo junto a elas que as raparigas eram aguardadas pelos seus pretendentes, quando aí iam diariamente encher os cântaros com água. Para impedir tal hábito, que causava escândalo e ofensa, em 1680, a Câmara estipulou a pena de 2.000 reais e dois dias de cadeia para todo o moço que namorasse moça solteira nas fontes."

A construção da fonte é atribuída a João Durão ou Dorão, pelo facto de, anteriormente, ser conhecida também por essa designação, apesar de a tradição afiançar que se tratava do nome da figura antes existente no coroamento.
Em 1683, a Câmara promoveu obras de beneficiação, que consistiram no conserto dos canos, tanque e juntas da pedra. Nas Memórias Paroquiais de 1732, destaca-se a "admiravel fabrica" da fonte e a falta de qualidade da água, apesar de a nascente ter origem no Rio Távora. Nesta época, eram já mencionados os bancos para tomar fresco.