Getto (2)
Łódź (Polónia), Setembro de 2006
Em 1939, os habitantes judeus em Łódź ultrapassavam 231.000. No início da Segunda Guerra Mundial, vários milhares fugiram para o Leste, muitos deles para a União Soviética; foram poucos os que conseguiram escapar para a Europa Ocidental e, daí, para fora do continente.
A ocupação da cidade pelas forças alemãs teve início no dia 9 de Setembro de 1939, após a capitulação da resistência local. A 9 de Novembro, Łódź foi incorporada numa nova subdivisão administrativa da Alemanha nazi, a Reichsgau Wartheland, e, a 11 de Abril de 1940, a cidade foi renomeada Litzmannstadt, em homenagem a Karl Litzmann, general alemão e membro do partido nazi, notabilizado pela vitória na Batalha de Łódź de 1914 e falecido em 1936.
Imediatamente após a ocupação, começaram a ser implementadas medidas repressivas contra a população: a afixação de editais com proibições e imposições sucedia-se a ritmo diário, os ocupantes prenderam representantes da intelectualidade e do clero, proibiram a imprensa de língua polaca, encerraram igrejas e escolas católicas, destruíram o monumento de homenagem a Tadeusz Kościuszko, incendiaram as sinagogas e atacaram duramente a comunidade judaica. Os judeus viram-se, sucessivamente, proibidos de exercer actividade comercial, de passear na Rua Piotrkowska (renomeada como Adolf-Hitler-Strasse) e nos parques municipais e de utilizar transportes públicos, assim como foram obrigados a andar na estrada, para cederem o passeio aos alemães, a usar braçadeiras identificativas e, mais tarde, a Estrela de David. Além disso, foram sujeitos a trabalhos forçados, espancamentos e humilhações várias.
Imagem daqui
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As medidas de segregação culminaram com a separação física da população: em Fevereiro de 1940, foi decidido reservar a zona mais pobre da cidade para alojar toda a comunidade judaica, que foi forçada a mudar-se para aí, após a expulsão dos moradores polacos e alemães. Essa zona, que compreendia a jurisdição de Bałuty e a Cidade Velha, assim como o Cemitério Judaico, foi vedada e isolada do resto da cidade. Quando os portões foram fechados, a 30 de Abril de 1940, viviam, no Ghetto Litzmannstadt, 163.777 pessoas, numa área de 4,13 km2.
Inicialmente, os judeus sentiram-se aliviados, com esperança de que o confinamento lhes proporcionasse protecção contra os frequentes roubos e ataques de que eram vítimas. Além do mais, a liderança de Chaim Mordechaj Rumkowski, chefe do Conselho de Anciãos, o corpo de polícia judaico e até a circulação de moeda própria transmitiam uma sensação de normalidade, apesar das condições de vida que depressa começaram a degradar-se, atingindo níveis desumanos.
O gueto de Łódź tornou-se um enorme campo de trabalho, com cerca de 95% da população adulta (e até crianças pequenas) empregada em 117 oficinas, produzindo fardas, vestuário, estruturas de madeira e metal e equipamentos eléctricos para o exército alemão. A elevada produtividade, que enchia os bolsos da administração alemã, foi a causa da longevidade do gueto, que se manteve em funcionamento até ao Verão de 1944.
Pelo segundo maior gueto nazi, passaram mais de 200.000 pessoas, contingente que incorporou os habitantes judeus das cidades e aldeias vizinhas, assim como cerca de 20.000 judeus da Áustria, Checoslováquia, Luxemburgo e Alemanha, trazidos no final de 1941, juntamente com mais de 5.000 ciganos da região de fronteira austro-húngara. Aproximadamente, 45.000 habitantes do gueto de Łódź morreram de fome, frio e emaciação e cerca de 145.000 foram assassinados nos campos de extermínio. Estima-se que apenas 5.000 a 12.000 judeus de Łódź tenham sobrevivido à guerra, mas os números exactos são desconhecidos.
Actualmente, estes edifícios estão assim
Após o final da guerra, Łódź desempenhou as funções de cidade capital, enquanto Varsóvia era reconstruída. Quando chegou a sua vez de receber cuidados, os projectos de planeamento urbano privilegiaram a construção de zonas residenciais periféricas, de inspiração soviética, para onde foi realojada a população da Cidade Velha, que ficou abandonada e parada no tempo. Consequentemente, o centro da cidade e as áreas históricas perderam importância e degradaram-se.
Em 2006, quando lá estive, era ainda visível o mau estado dos prédios de habitação mais antigos, alguns dos quais tinham pertencido ao gueto. Nos últimos anos, as autoridades locais desenvolveram um projecto de reabilitação do centro da cidade, no âmbito do qual muitos edifícios antigos foram renovados. O melhor exemplo de reabilitação urbana em Łódź é o complexo da Manufaktura.
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