Papa-unescos (XXVI)


Évora, Novembro de 2024

(31) Centro Histórico de Évora (Portugal)

Não sei se as voltas da vida se um prenúncio de morte levaram-me novamente a Évora, onde me pude demorar mais do que o habitual. É uma cidade lindíssima, cujo centro histórico foi classificado pela UNESCO, em 1986. Já por aqui tinha andado, a propósito de memórias da escola primária, mas sem ilustração condigna. É, pois, tempo de corrigir essa injustiça.
Acima, o Templo Romano, ou o que resta dele. Foi classificado em 1907 e, como Monumento Nacional, em 1910.

Exemplar de arquitectura religiosa romana, do século I, situado na Acrópole, à cota máxima de 302 m, que fazia parte do fórum; é de estilo coríntio e do tipo hexastilo-períptero, com planta rectangular (25x15m). Estava enquadrado por tanques, criando um raro efeito de espelho de água. Deve ter sido dedicado ao culto imperial e não à deusa Diana, como é designado desde o século XVII até aos nossos dias (Templo de Diana). Foi reutilizado ao longo dos séculos, sobretudo, como açougue municipal. O seu aspecto actual deve-se às obras de libertação das paredes, em 1870, dirigidas por Cinatti.
Em frente, a Igreja do Convento dos Lóios. A igreja foi classificada como Monumento Nacional, em 1910, e o convento, em 1922.


A primeira pedra do Convento dos Lóios de Évora foi lançada em 1487, por iniciativa do primeiro conde de Olivença, D. Rodrigo de Melo, guarda-mor do rei D. Afonso V, e também Governador de Tânger, que dois anos antes iniciara a construção da igreja anexa (da invocação de São João Evangelista), destinada a panteão de família.
Construído sobre o que restava de um castelo medieval, o convento constitui um excelente testemunho arquitectónico do tardo-gótico alentejano.
Destaca-se, no piso térreo, a entrada da antiga Sala do Capítulo, já quinhentista, rasgada por um exuberante portal mainelado com arcos em ferradura, perfeito exemplar da arquitectura regional manuelino-mudéjar. Nesta mesma porta está um medalhão evocando a participação de D. Rodrigo na Batalha de Azamor, em 1508, pelo que as obras desta sala terão datação aproximada.
Mesmo ao lado, a imponente Sé Catedral, classificada como Monumento Nacional, em 1907 e 1910.




Dedicada a Santa Maria, a Catedral de Évora foi edificada nos séculos XIII e XIV, sob o patrocínio real de D. Afonso III e do bispo D. Durando Pais, nos estilos românico e gótico, destacando-se o pórtico ogival, guarnecido por esculturas do Apostolado, e o claustro. Anteriormente, existiu outra sede episcopal, mas ignora-se a sua localização. A capela-mor é do século XVIII (estilo barroco), de autoria do arquitecto alemão Frederico Ludovici. No seu interior, existem muitos elementos arquitectónicos e artísticos de relevância, como o cadeiral do coro, o órgão renascentista, as peças do Museu de Arte Sacra (escultura, pintura, paramentaria e ourivesaria), entre outros.
Imperdível, a Igreja de São Francisco e a Capela dos Ossos, que, desta vez, não visitei. A Igreja de São Francisco está classificada como Monumento Nacional desde 1910.






Edifício dos séculos XV e XVI, de estilo manuelino-mudéjar e renascentista construído em substituição de um anterior templo gótico, do qual subsistem ainda alguns vestígios. Teve anexo o Palácio Real e foi considerada como Igreja Real, na qual se realizaram importantes cerimónias, como o casamento do príncipe D. Afonso com D. Isabel de Castela, em 1490.
A fachada da igreja é caracterizada pela volumetria dos coroamentos e o portal está decorado pelos emblemas régios de D. João II e D. Manuel I. O seu interior apresenta uma nave única, de planta rectangular e em cruz latina, destacando-se o altar-mor e a Capela da Ordem Terceira de S. Francisco, de estilo barroco. A maior curiosidade popular reside na Capela dos Ossos, de três naves formadas completamente por ossadas humanas (século XVII).
Ainda, o Paço de D. Manuel, classificado como Monumento Nacional em 1910.


O Palácio de D. Manuel é o que resta do grande conjunto palaciano de S. Francisco, pois foi a partir do Convento de S. Francisco que se desenvolveu o novo e grandioso Paço Real de Évora, que passou a alojar a corte e onde teve lugar o casamento do infante D. Afonso, filho de D. João II, com a Infanta Isabel de Castela em 1490. Coube ao rei D. Manuel I, o Venturoso, que subiu ao trono em 1495, imprimir ao conjunto monumental a grandiosidade e a beleza arquitectónica que ostentava.
Apenas a galeria quinhentista - o Paço das Damas -, datada da primeira vintena do século XVI e integrada no ciclo manuelino-mudéjar, se salvou da destruição, chegando a ser utilizada como armazém de guerra nas lutas da independência (1640).
Cedido em 1865 à Câmara, o Palácio de D. Manuel foi utilizado como Museu Arqueológico, teatro e espaço de exposições, até que o desmoronamento de 18.02.1881 lhe destruiu as coberturas.
Após o desastre, foi adaptado a casa de espectáculos públicos - o Teatro Eborense - após as obras, dirigidas pelo engenheiro eborense Adriano de Sousa Monteiro, que lhe alteraram a traça original, acrescentando-lhe um segundo andar com armação metálica, ao gosto da época.
Em Março de 1916, foi destruído por um incêndio, tendo assim permanecido até 1943, data em que foi recuperado pelos Monumentos Nacionais, que restauraram o imóvel e salvaram as partes essenciais do antigo pavilhão.
Hoje, cumpre a função de "sala de visitas" da cidade, onde têm lugar recepções oficiais e cerimónias de natureza cultural, exposições e outras iniciativas consentâneas com a sua dignidade.
Fico-me por aqui, para já, mas muitos mais virão.

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