Mar vão?

Marvão

Aqui se despenharam horizontes
que os séculos sorveram.
Na lenta criação da rocha
– a abrir caminho –
ampliou-se a luz,
e a vibração do ar
sonorizou o espaço.

De infindas lonjuras temporais
foram desabando os céus
por sobre a ignição do território,
chegando até aqui
a assombração do magma
que a terra lubrifica
– e que no caos conduz
ao incêndio do granito,
ao deflagrar do mundo.

Em busca da sua própria glória,
espraiando-se ao longo
da incandescente pele da geografia,
este mar rochoso aparelhou-se
para o espesso rumo da eternidade
com o obstinado vagar
dos minerais.

Aqui as pedras falam
– mas só a quem conheça
a sua língua lenta
e assombrosa.

Júlio Henriques
Cadernos Periféricos, nº 5: Da permanente ameaça do Progresso,
Porto da Espada, Marvão, 2004 (contra-capa).

Marvão
Foto de Ivan Bohátka

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