InterRail 2003 / Mediterrâneo (II)
Corfu
Passei quatro dias fantásticos nesta pequena ilha grega. É um local paradisíaco de águas cristalinas e sol radioso, o local ideal para descansar uns dias, que foi o que aconteceu, tendo aproveitado para conhecê-lo melhor. Aluguei um carro (na Grécia nota-se logo que se praticam preços bastante inferiores, na sua maioria, aos praticados em Itália), e sem dúvida que este constitui o melhor meio para visitar a ilha, apesar de as estradas serem estreitas, sinuosas e de fraca qualidade. Esta não possui monumentos dignos de relevo, mas tem muitas praias fantásticas com paisagens de cortar a respiração, desde que se saiba encontrá-las. Gostei muito do artesanato e da gastronomia, sendo que nas localidades do interior, mais afastadas da costa, os preços praticados são bastante inferiores, pelo que devem ser a melhor opção. Nesta ilha voei num barco (depois de pagar 30€, claro!). Era um barco de borracha com uma asa delta acoplada e um motor para impulsão. Foram apenas quinze minutos, mas a paisagem que se tem das alturas (o piloto disse que estivemos a 600 metros de altura, mas ainda hoje eu acho isso muito improvável, apostaria mais nos 300 metros) recompensa largamente o investimento inicial. Não se vê a ilha toda, mas dá para ver o outro extremo da costa, a uns dez quilómetros de distância. Vi também umas danças tradicionais chamadas Sirtaki que me agradaram muito. Adorei a coreografia... feita a um ritmo alucinante!
Patras
É uma das principais portas de entrada marítimas do continente grego. A arquitectura não é nada de especial, mas enquanto espera pelas ligações por comboio e se se sentir com forças para subir as incontáveis escadarias até ao Castelo (de origem medieval), a visão de lá é deslumbrante. Vê-se o porto, os barcos e uma linha de montanhas ao longe excelente para tirar fotografias. Decidi entrar nalgumas igrejas locais, de estilo Bizantino. Comi um pouco de pão oferecido à entrada e observei como são as suas missas e sermões religiosos. São completamente diferentes dos da Europa Ocidental, mais vivos, têm mais cor e notei também um maior fervor religioso. Aliás, a própria aparência exterior em abóbada e a ornamentação dos templos é muito rica e distingue-se perfeitamente dos nossos templos religiosos.
Atenas
Foi o ponto mais afastado de Portugal em que me encontrei. Eu por mim continuava até à Turquia, que creio ser um local fabuloso com uma cultura completamente distinta da nossa (apesar das notícias nos meios de comunicação, não creio que haja grande perigo em viajar para esta região, desde que se vá acompanhado), mas como os meus companheiros de viagem não tinham mais dias livres, tive de fazer marcha-atrás, para grande pena minha. Atenas tem quatro milhões de habitantes, como se pode constatar através da vista da Acrópole: um imenso manto branco de construções em todas as direcções, vendo-se o mar a este (a uns vinte quilómetros de distância) e o Monte Lycabetus a Oeste. É imprescindível uma visita a este monumento de importância mundial, símbolo da cultura helénica, da qual somos herdeiros. É uma pena esta ter sido bombardeada e quase completamente destruída por uma esquadra turca há cerca de trezentos anos, mas o que restou permite-nos ainda sonhar com esse dias que já fazem parte do passado. A entrada é 12€, mas eu não paguei e inclusive fiz duas visitas, pois na primeira não consegui ver tudo. A estratégia utilizada foi entrar pela saída. Envolve alguns riscos, mas quando um InterRailer vê o dinheiro a voar a cada instante, tem-se outra perspectiva das coisas. Só em água gastei à vontade mais de 50€!! A área envolvente é imensa e possui centenas de pontos de interesse a visitar, apesar de em muitos casos se notar não haver conservação das ruínas que subsistiram até aos dias de hoje. No entanto, devo fazer uma ressalva. Por causa de os Jogos Olímpicos de 2004 serem realizados em Atenas, a cidade é um imenso estaleiro. Inúmeros monumentos e fachadas de edifícios encontram-se cobertos por andaimes e a serem restaurados, estando nalguns casos encerrados e inacessíveis, como foi o caso do Museu Nacional. O melhor meio de transporte é o metro, e, novamente, o meu conselho é o mesmo: se for adepto de correr riscos, poupe nos bilhetes de metro, pois a fiscalização é ainda mais reduzida que em Roma.
Impressões da viagem
O balanço global foi muito positivo. Regressei cansadíssimo, mas cheio de boas recordações. Mesmo os momentos menos agradáveis, quando são recordados, são-no sempre com um misto de nostalgia e deslumbramento pela forma como se resolveram (ou não!). E é engraçado que quanto mais afastado de casa estava, mais longe queria ir... e ao mesmo tempo, crescia dentro de mim um sentimento muito português chamado saudade por tudo o que tinha deixado para trás. Talvez por isso, as notícias chegadas de Portugal eram sempre recebidas com alguma emoção e os frequentes encontros com compatriotas nossos em cada cantinho por que passei eram sempre momentos especiais. Não sei se o Portugal de tanga de que alguns falam tanto existe mesmo, ou se não fará parte de um equívoco intencional para ocultar outras coisas, essas bem reais. Mas que havia imensos portugueses a passear pela Europa, isso posso confirmar que havia. Eu gastei, no total, perto de 1200€, mas reconheço que poderia ter poupado bastante dinheiro. O problema é que, infelizmente o "savoir-faire" vem depois e não antes dos acontecimentos. Por esse motivo, é fundamental esboçar um plano de viagem, ver muito bem o que se quer fazer e até onde se pretende ir, levar bebida e alguma comida perecível para os primeiros dias e fazer um orçamento do que se pretende gastar. Deve-se levar roupa leve e prática (mas não muita), umas sandálias de qualidade (para evitar as bolhas que vêm com as constantes deambulações pelas cidades) e deve-se ter sempre um sorriso nos lábios, mesmo ao perdemos uma ligação por comboio... afinal, férias são férias!
A provar que de facto é uma boa alternativa às tradicionais férias algarvias em que uma pessoa passa uma substancial parte do dia estendido ao sol como os lagartos, está a minha pretensão de fazer nova viagem este Verão. Desta feita, pelo norte da Europa. A nível histórico, as cidades do norte têm legados culturais diferentes, talvez menos ricos que as suas congéneres do sul e a cultura europeia no seu conjunto apresenta muitas similitudes, mas se de facto acabar por ir, sei que vão ser de novo momentos inesquecíveis. Lá bem no fundo, viajar de InterRail é uma pequena aventura, feita à escala das nossas modernas sociedades. A diferença é que depois de todas as grandes explorações estarem feitas, a única que resta por fazer é ao interior de nós mesmos. Esse é o melhor "souvenir" que podemos trazer destas viagens pelo estrangeiro...
(1ª parte)
Texto e fotos de Pedro Luís Laima Bicho
Sem comentários:
Enviar um comentário