A montanha
Foi assim a minha primeira experiência alpina, como num velho livro de infância, no Inverno passado, nos Alpes suíços (Les Diablerets).
A manga curta e a mini-saia foram prudentemente substituídas por uma indumentária lunar, mais compatível com temperaturas máximas de 0ºC.
Os passeios na neve revestiam-se sempre dos cuidados de quem não quer escorregar no gelo. Os campos cobertos de neve branca e fofinha eram bem mais apetecíveis do que os caminhos já muito calcados, sujos e gelados. Ainda me aventurei uma vez (ó laró laró pipu), até dar por mim atolada, com neve até às virilhas, sem saber muito bem como sair dali. Acabaram-se os lirismos de Heidi e passei a andar por caminhos seguros, sempre atenta ao gelo.
A paisagem era assim mesmo: as montanhas, os pinheiros, as casas de madeira, os telhados cobertos por uns 50 cm de neve, que tinham de ser cortados a serrote, em cubos que depois eram atirados para o chão.
As pistas também eram assim mesmo: os esquiadores, o equipamento (apenas mais moderno), o tele-ski. Eu, pouco dada a aventuras radicais, era mais como a mocinha da camisola lilás, à direita, com os esquis em cunha (chasse-neige), que o melhor que aprendi foi a travar. Bom, melhor foi mesmo ter aprendido a levantar-me sozinha, depois das muitas quedas, que, não sendo tão aparatosas como a do menino bola-de-neve, foram bem mais divertidas.
Adorei a pista de trenó (luge): 7 Km, pela montanha abaixo, a comer neve por todo o lado.
A região é pródiga em meios mecânicos: teleféricos, tele-cabines, tele-cadeiras, tele-skis. Utilizei-os o mais que pude. De teleférico, fui até ao glaciar dos Diablerets, a cerca de 3000 metros de altitude (Glacier 3000). Uma vista fabulosa!
Foi assim a minha primeira experiência alpina. A próxima, logo se vê.
Ilustrações de Alain Grée, para Alain Grée, La montagne, Casterman, col. Achille et Bergamote, 1966
(versão portuguesa de Maria Adozinda, A montanha, Lisboa: Verbo Infantil, s/d, pp. 10, 18-19, capa, 28).