Igreja de Santa Maria de Óbidos


Óbidos, Julho de 2019

A Igreja de Santa Maria, a Paroquial de Óbidos, fica na praça homónima. O edifício foi construído ao longo de vários séculos, reflectindo as características estilísticas dos períodos sucessivos, apresentando elementos manuelinos, renascentistas, maneiristas e barrocos.
Embora não existam certezas a esse respeito, a origem da igreja remontaria, segundo a tradição, ao período visigótico, tendo sido transformada em mesquita na época muçulmana. Ao certo, sabe-se que foi sagrada por D. Afonso Henriques após a conquista da vila (1148). A autoridade municipal de turismo refere que, não se conhecendo a data exacta da fundação, é um facto que o priorado da nova igreja foi entregue a S. Teotónio, companheiro de D. Afonso Henriques, grande figura da Igreja e prior do poderoso Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que teve o padroado da Igreja de Santa Maria até D. João III o ter doado a sua mulher, a Rainha D. Catarina de Áustria.
O templo medieval foi profundamente reformado pela Rainha D. Leonor, em finais do século XV, arrastando-se as obras pelo primeiro quartel do século XVI. Data desta campanha a torre sineira, adossada à fachada e coberta por coruchéu piramidal de oitavado. Atingida certamente pelo terramoto de 1535, a igreja, cerca de 1570, ameaçava ruína, pelo que é imediatamente pensada a sua completa reconstrução. Assim, no dia 15 de Agosto de 1571, dia da Assunção de Nossa Senhora, foi lançada a primeira pedra da nova igreja, com procissão e grande aparato religioso, prosseguindo as obras sob a protecção da Rainha D. Catarina. Desta campanha resulta a sua configuração actual, com provável risco do arquitecto régio António Rodrigues. Cerca de um século depois, sofre novas obras de beneficiação, por iniciativa do Prior Doutor Francisco de Azevedo Caminha, que redecora a igreja através de um programa artístico de gosto barroco: tecto, azulejos e telas das naves.



No exterior, destaca-se o portal maneirista encimado pela imagem de Nossa Senhora da Assunção, orago da paróquia, composição muito restaurada. É composto por dois pares de colunas que sustentam o frontão com friso decorado por grotescos de fino lavor e cartelas ao gosto norte-europeu.



No interior, a decoração das naves é uma das mais destacadas obras de toda a azulejaria nacional. Na pintura, o principal destaque vai para o Retábulo de Santa Catarina de Alexandria, pintado por Josefa de Óbidos (1661), possivelmente a única obra executada pela artista que ainda mantém o seu local original. Os topos das naves laterais possuem duas belíssimas telas de André Reinoso, o Baptismo no Rio Jordão e a Transfiguração, enquanto a estrutura retabular central da capela-mor, atribuída ao pintor João da Costa, consiste num ciclo de oito pinturas dedicadas à Virgem Maria. De salientar, ainda, o belo órgão de tubos seiscentista presente no coro alto.



Porém, o maior destaque vai para o túmulo de D. João de Noronha, o Moço, e de sua esposa D. Isabel de Sousa, erigido em 1525 na parede lateral da nave (lado do Evangelho) e considerado um dos mais belos exemplares da tumulária renascentista portuguesa. "O monumento fúnebre foi edificado como um grande portal, ricamente decorado, ao centro do qual se rasga o arco de volta perfeita que alberga a arca tumular. A estrutura divide-se em três registos, correspondentes à base, onde se integram os plintos e a arca, o arcossólio, onde assentam quatro esculturas de vulto, e o entablamento". O conjunto que hoje se ergue é resultado de distintas épocas de execução, sendo possível que o grupo escultórico provenha de um antigo retábulo e date de 1518-1519, enquanto a estrutura retabular e a arca datarão de 1529-1532. Quanto à autoria, crêem os entendidos que o grupo escultórico foi executado por Nicolau Chanterene, a estrutura retabular por João de Ruão e o pequeno retábulo em micro-arquitectura de remate por um mestre desconhecido. Curiosamente, há quem considere que esta obra constitui o protótipo do túmulo de D. Jorge de Melo no Mosteiro de São Bernardo, em Portalegre, também atribuído a Nicolau de Chanterene e que, inacreditavelmente, ainda por aqui não passou.
Como limito ao máximo a captura de imagens dentro de lugares de culto, faço aqui uso de duas fotos do repositório Wikimedia Commons:





Em 1933, o monumento funerário foi classificado como Monumento Nacional e a igreja como Imóvel de Interesse Público.

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