A volta e a viagem
Ferry entre a Alemanha e a Dinamarca
Quando comecei a publicar nesta chafarica, a ideia era ir dando conta (diário de bordo, pois) das minhas voltas, por aqui, por ali e mais além. Mais do que para as partilhar, para não me esquecer delas. Mas o tempo era sempre pouco e as viagens foram-se sucedendo, as fotos acumulando, e eu desanimei do meu propósito inicial. Aos poucos, fui esquecendo pormenores (e alguns, maiores). Um dia, lembrei-me que podia, assim como exercício, para me disciplinar, ir tirando os álbuns da prateleira, um a um: soprava-lhes o pó de cima (o que eu gosto desta metáfora) e trazia-os de novo à vida. Um destino por mês, que tal? (E sai mais um projecto adiado para a mesa do canto.)
Depois veio a fixação temática, as séries e as colecções, e dei por mim a vasculhar os ditos álbuns e a reencontrar interesses esquecidos. À boleia dos cataventos, regressei à Dinamarca, onde me voltei a cruzar com as portas de Ribe, que também as havia em Haderslev, e janelas, e praias, chuva, girafas, barcos, tanto mar. E foi-me saindo a Jutlândia, às golfadas, e a Dinamarca às arrecuas.
Ora, raios, se já aqui estou, por que não reconstituir a viagem de uma vez?
Schweriner See, o lago de Schwerin, do lado de Bad Kleinen (Alemanha)
Se bem me lembro (e lembro-me, até do Vitorino Nemésio, que isto já são muitos anos de navegação), foi num belo dia do Verão de 2007 que apanhámos os três um qualquer voo low cost para Berlim Schönefeld. A primeira coisa que fizemos, à chegada, foi ir à agência buscar a montada que nos havia de carregar nas três semanas seguintes. A segunda, uns cinco minutos depois, foi pagar a multa por excesso de velocidade (primeira lição do dia: os polícias alemães, por muito simpáticos que possam ser, não caem em choradinhos, não vale a pena argumentar com o jet lag ou com a influência nefasta da condução em países periféricos com elevados níveis de sinistralidade rodoviária).
O peixinho fumado do Torsten, em Hoppenrade (Bad Kleinen, Alemanha)
Dos muitos sítios por onde passámos, Berlim foi o único onde não tínhamos amigos à espera, pelo que um hotel baratucho teve de dar conta do recado. Dois dias de sol a explorar a cidade, um pulo a Potsdam, e seguimos para Hamburgo. No caminho, passámos pelo lago de Schwerin, para almoçar umas trutas e enguias fumadas memoráveis com uns amigos que viviam na zona.
Em Hamburgo, ficámos cinco dias em casa de uma amiga, em Volksdorf, de onde partíamos cada manhã, após um lauto Frühstück, à descoberta da livre e hanseática cidade e arredores. (Por essa altura, começou a chover.)
Fehmarnsundbrücke
Até que arrancámos para a Dinamarca, não sem antes fazermos um desvio pela hanseática cidade de Lübeck. Seguimos até à Fehmarnsundbrücke (podia chamar-lhe a ponte do estreito de Fehmarn, mas não tinha a mesma piada), que atravessámos para entrar na ilha alemã de Fehmarn, e seguimos para Puttgarden, onde apanhámos o ferry para Rødby, na ilha dinamarquesa de Lolland. Atravessámos a ilha de Lolland e a Guldborgsundbroen (sim, a ponte sobre o estreito de Guldborg), para entrarmos na ilha de Falster, que atravessámos, assim como as Farøbroerne, duas pontes que asseguram a travessia, sobre a pequena ilha de Farø, até à Zelândia, que por acaso também é outra ilha, mas isso agora já não interessa nada. Enfim, de ilha em ilha, pela E47 fora, chegámos à maior ilha da Dinamarca.
Farøbroerne
Na Zelândia, tínhamos um belo apartamento prometido, no centro de Copenhaga, que, poucos dias antes da partida, ficou indisponível. Valeu-nos, em cima da hora, outro amigo que nos ofereceu uma casa no campo, bem no centro da ilha, na zona de Ringsted, no meio dos campos de cereais, onde ficámos outros cinco dias. De lá partíamos todos os dias, já a manhã ia alta, após um lauto morgenmad, à descoberta da capital danesa e arredores. (Por essa altura, já eu tinha engordado uns três quilos.)
Allindemagle (Ringsted, Dinamarca)
E passeámos que nos fartámos, em Copenhaga e pela costa acima, até arrancarmos para a (ilha de) Fiónia. Atravessámos a Storebæltsforbindelsen (a ponte do [estreito] Grande Belt) e seguimos até Odense, para uma voltinha à chuva, antes de continuarmos para Svendborg, onde ficámos dois dias. Aí foi um fartote de mar, de veleiro de um lado para o outro, por entre ilhas.
Storebæltsforbindelsen
E seguimos para a Jutlândia (a parte continental da Dinamarca -- acabaram-se as ilhas), através da Nye Lillebæltsbro (a ponte nova do Pequeno Belt). Passámos por Kolding e Givskud e seguimos viagem.
À beira da estrada, à entrada da Fiónia (gostava de coleccionar faróis)
Ficámos quatro dias na Jutlândia, um alojados em Skodborg e três em Christiansfeld, de onde, após os pequenos almoços da ordem, partíamos para passear: Hejlsminde e Haderslev, num dia; Ribe e Esbjerg, noutro; Billund, no outro.
Nye Lillebæltsbro
E regressámos à Alemanha, depois de uma paragem em Åbenrå, para nos abastecermos das nossas especialidades nórdicas favoritas: queijo castanho norueguês e remolada dinamarquesa.
O queijo castanho norueguês (myseost, em dinamarquês; brunost, em norueguês), é um queijo feito de soro de leite, com um sabor adocicado, a caramelo. Pelo menos na nossa versão favorita, a Gudbrandsdalsost (também aqui). Os seus maiores produtores são a Tine e a Synnøve, que chegámos já a contactar, em vão, na esperança de conseguirmos um canal de exportação direitinho para o nosso frigorífico (valem-nos os muitos amigos na Dinamarca, e os serviços de correio).
Remolada é uma variante de maionese, excelente com fritos, carnes frias e o que mais vier. Encontra-se às vezes em Portugal: a última vez, nos supermercados ALDI, mas, mais frequentemente, nas estações de correios.
O pôr-do-sol em Großbeeren, já a chegar a Berlim
Esta última viagem foi a mais longa, de Christiansfeld a Berlim, com paragens em Åbenrå, Schleswig e Hamburgo. Na capital alemã, passámos as duas últimas noites e o último dia, memorável.
Com tempo, há-de passar tudo por aqui.
1 comentário:
É bom saber que há gente viajante e que gosta de partilhar aventuras!
Gostaria bem de conhecer as remoladas e os queijos de outras paragens!
Fico com o sonho de um dia também poder ir...
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