Le fontane


Pisa (Itália), Junho de 2014

A Fontana dei Putti é a mais famosa de Pisa. Fica na Piazza dei Miracoli, em muito boa companhia:



Na Piazza dei Cavaleri, mesmo em frente à Scuola Normale Superiore (Palazzo della Carovana), e junto à estátua do grão-duque Cosimo I, fica uma outra fonte:











Um pouco mais à frente, na Via Consoli del Mare, encontrei esta:





A última que encontrei foi a da Piazza delle Vettovaglie, aqui:





#TBT: Itália 2006


Nos Alpes franceses, na região de Chamonix, com vista para a Itália, Dezembro de 2006

Em 2006, não fui à Itália, pois não, mas veio a Itália até mim. A ver se me consigo explicar, porque este apresenta-se como um problema filosófico de difícil resolução: poderei dizer que estive num lugar que só os olhos alcançaram? O que será preciso para considerar que se esteve nalgum lugar: um intervalo de tempo mínimo de permanência? E permanência de quê, dos pés, dos olhos, do corpo todo? E se o corpo lá esteve, mas os pés não tocaram o chão? Tudo questões ociosas que se põem quando é necessário definir as regras do jogo.
Por exemplo, quando há pernoita, não há dúvida, mas e se a permanência for mais curta? Digo e afirmo que estive na Holanda, apesar de só ter passado uma tarde em Amesterdão: usei transportes públicos, passeei pelas ruas, quase fui abalroada por bicicletas desvairadas, visitei um museu, tirei fotografias, comi um gelado à beira de um canal -- acho que já vale alguma coisa. Em relação à Bélgica, tenho mais pudor em dizer que lá estive: apanhei o comboio, atravessei umas ruas perdidas na zona Sul de Bruxelas, comi qualquer coisa num kebab e voltei para o aeroporto -- não posso dizer que tenha sido uma experiência enriquecedora. Menos ainda o foi na Bósnia-Herzegovina, onde o autocarro parou, no caminho para Dubrovnik, num café de beira de estrada, perto de Neum: saí para esticar as pernas, usei a casa de banho e tirei duas fotografias -- alguma coisa de mim lá ficou, mas ficou muito pouco daquele país em mim.
E já nem falo, nem me lembro, dos países que vislumbrei das janelas dos aviões (muita Rússia, entre Paris e Ósaca), nem da Eslováquia que contemplei do barco que cruzava o Danúbio, entre Viena e Budapeste, e depois novamente da janela do comboio nocturno entre Budapeste e Praga.
Enfim, guardo uma memória muito clara (e fotográfica) de algumas zonas de fronteiras que não cheguei a atravessar, que só contemplei do lado de cá, com muita pena minha (detesto perder uma oportunidade de alargar a colecção).
Em Dezembro de 2006, fui passar uns dias (e o ano) a Chamonix, e foi numa das subidas, algures entre a Aiguille du Midi e as Grandes Jorasses que nos disseram que, ali à frente, já era a Itália. Os cabos que víamos eram os do teleférico que, no Verão, fazia a travessia, mas estava parado no Inverno, por causa do perigo de avalanches. Retive o olhar um pouco, tirei umas fotografias e foi essa a minha primeira experiência italiana.


Nos Alpes franceses, na região de Chamonix, com vista para a Itália, Dezembro de 2006

Dois meses depois, em visita de trabalho à Roménia, os nossos colegas locais levaram-nos a conhecer a região de Maramureș e, a certa altura da viagem de autocarro, disseram-nos que as montanhas que víamos, depois daqueles renques de árvores, ficavam já na Ucrânia:


Na região de Maramureș, a caminho de Săpânța (Roménia), com vista para a Ucrânia,
Fevereiro de 2007


Em Dezembro de 2005, noutra viagem de trabalho, à Irlanda do Norte, as nossas colegas quiseram mostrar-nos as belezas da costa de Antrim, e parando a certa altura, apontaram para uma nesga escura que se destacava entre o mar e as nuvens e disseram-nos que era a Escócia, que se podia ver muito melhor em dias claros:




Na região de Antrim, perto de Cushendall (Irlanda do Norte, Reino Unido),
com vista para a Escócia, Dezembro de 2005


Não foram lá grandes experiências, pois não, mas serviram para abrir o apetite. A Itália já vai estando; os outros se verá, com o tempo.

I lampioni


















Pisa (Itália), Junho de 2014

La mia Italia


Pisa (Itália), Junho de 2014

Durante anos, no tempo em que eu me movia muito, a Itália foi a grande falha no meu currículo. Como viajava frequentemente com pessoas diferentes, sempre que eu sugeria um destino na bota mediterrânica, argumentavam que já lá tinham estado, que eu já vinha um ano ou dois atrasada. Foi assim anos a fio, até que se tornou uma anedota pessoal, um facto insólito no meu percurso, a que me fui habituando.



Em Junho de 2014, surgiu a possibilidade de ir a Pisa em trabalho, para participar num congresso, e fui. Foram cerca de quatro dias de estudo, alternado com escapadinhas nas horas mortas, para conhecer um pouco a cidade. Ainda me sugeriram tirar uma tarde para ir a Florença, que era um pecado estar ali ao lado e não dar lá um salto, que Pisa era pequena e ficava vista num instante. Não fui na conversa: por um lado, porque, sendo Florença o portento que todos me afiançam que é, não se veria em condições numa tarde; por outro lado, porque o congresso me interessava bastante e não estava disposta a desperdiçar a oportunidade de ouvir tantas sumidades juntas a falarem de assuntos do meu interesse; e ainda, porque acreditava que Pisa havia de ter mais que ver do que uma torre inclinada. E estava certa.



Pisa é uma cidade pequena e muito bonita, com aquele charme toscano que eu conhecia do cinema e da pintura. O efeito do pôr-do-sol nos tons ocre das paredes e os seus reflexos no Arno, as ruelas estreitas, a quantidade de pormenores coleccionáveis, entre janelas, cataventos, cruzes, placas de homenagem (1, 2, 3) e muitas outras coisas que ainda nem pela cabeça me tinham passado, conseguiram exceder as minhas expectativas.



Fiquei alojada num hotelzinho na Via Tavoleria, a meio caminho entre a Piazza dei Cavalieri, onde tinham lugar as palestras, e o Lungarno Antonio Pacinotti (que, como o nome diz, corre ao longo do rio Arno), ali para os lados da Piazza Garibaldi, do Borgo Stretto e das suas praças e ruas laterais.
A Luminara di San Ranieri, logo na primeira noite do congresso, e a Piazza dei Miracoli (oficialmente, Piazza del Duomo), com o património da humanidade ali todo arrumadinho, deram a nota de grandiosidade ao conjunto das minhas impressões, que nem alguns escritos que conspurcavam paredes mais velhas, com o estuque a saltar, conseguiram estragar.



No dia do regresso, uma escala demasiado longa no Fiumicino deu-me atrevimento para, contra o conselho da menina do posto de informação turística, aproveitar para explorar um bocadinho da capital. Um bocadinho imperial, turístico, organizado, que só não foi maior por contingências do clima, que naquela semana se mostrou incerto.



E foi essa a imagem que trouxe de Itália, a minha Itália: bonita, organizada, grandiosa.
No ano passado, tive oportunidade de voltar, para outro congresso, desta vez em Nápoles. Na bagagem, levava la mia Italia, mas o que encontrei foi tutta un'altra storia... E que história!



NOTA: Estas imagens são todas de Pisa, que ainda tem muito que ver e que mostrar. Mais Itália virá, a seu tempo.

Impression, soleil levant


Nápoles (Itália), Setembro de 2016

Sem contar as escalas em aeroporto, estive em Paris três vezes: em Julho de 1989, em Maio de 1994 e em Junho de 2005. Visitei o Louvre (duas vezes), o Grand Palais, o Carnavalet, o Musée d'Orsay, mas havia sempre uma falta a lamentar: é que eu queria, porque queria, ver os nenúfares de Monet na Orangerie. O pior é que era a única, nunca consegui arranjar companhia. Assim, em Junho de 2005, aproveitei uma manhã em que fiquei sozinha e ala para as Tulherias.
O tempo estava lindo: apreciei os jardins, a vista do obelisco, mas, na Orangerie, só encontrei aberta a casa de banho. Aproveitei, que isto nunca se sabe quando se encontra a próxima, e meti conversa com a funcionária de serviço, que estava mais interessada no segurança com ar de parisiense malandro com quem se entretinha em amena cavaqueira. Pois, respondeu-me ele, estava com azar, a Orangerie estava fechada para obras, estaria pronta dali a uns bons meses, mas, com o atraso que já levava, era coisa para durar bastante. Desanimei: então e os nenúfares, onde é que estavam? Encaixotados, ou pelo menos ter-se-iam lembrado de lhes arranjar um espaço de exposição provisório? Pois, se os queria ver, tinha de ir ao Museu Marmottan, ali para os lados de La Muette: estava lá tudinho! Eu fiz um ar desconfiado, ele lançou-me um olhar malandro e acrescentou: "Menina, nunca acredite em tudo o que lhe dizem...". Sorri, agradeci, saí e sentei-me a estudar o mapa: de facto, o tal museu lá estava, apesar de eu nunca ter ouvido falar dele (é verdade, preparo sempre muito mal as minhas viagens), e ficava perto da Torre Eiffel, onde eu tinha combinado encontrar-me com uma amiga, por volta do meio-dia. Não tinha nada a perder, e até me tinham chamado menina. Estava feito: meti-me no metro e fui para La Muette.
Encontrei facilmente o museu (sou muito boa a ler mapas), mas a empregada da bilheteira tinha muito menos sentido de humor e resmungou que os nenúfares da Orangerie estavam na Orangerie, bem acondicionados, com toda a certeza, à espera do final das obras. Agora, se queria ver Monet, tinha muito que ver ali.
Já que ali estava, paguei e entrei. E vi. Vi muito Monet, vi Monet que nem parecia Monet. Trouxe uma reprodução em postal de uma ponte japonesa, para uma amiga pintora que desdenhava Monet e que me agradeceu aquele lindo Van Gogh! Aprendi a apreciar as diferentes fases da obra do artista e pasmei, pela primeira vez, em frente ao quadro que tinha dado o nome ao movimento impressionista:


Claude Monet, Impression, soleil levant, 1872
Óleo sobre tela, 48 × 63 cm
Musée Marmottan Monet, Paris (França)


Como já me tinha acontecido outras vezes, frente a grandes obras que só conhecia dos livros, achei-o pequeno e algo desconcertante: aqueles barquinhos pretos, tão contrastantes, talvez mesmo deslocados, fizeram-me compreender a polémica gerada na época. Dei a volta completa ao museu, que tem muito mais que ver, mas ainda voltei para me despedir das impressões do Sol nascente.
Este tipo de efeitos de luz tem tido muito sucesso nas artes pictóricas, pelo menos desde Turner, mas foi no quadro de Monet que pensei quando vi esta fotografia de Sebastião Salgado, na exposição Génesis, em Abril de 2015, na Cordoaria Nacional:


Sebastião Salgado, Um grupo de índios Waura à pesca no lago Puilanga,
perto da sua aldeia, na região do Alto Xingu, Mato Grosso (Brasil), 2005.
Do livro (projecto e exposição fotográfica) Génesis, 2013


E, da mesma forma que, nos Alpes suíços me senti dentro de uma pintura de Bruegel, o Velho, e que os lagos finlandeses se me assemelharam aos contrastes de Simberg, também naquele último passeio matinal ao longo da baía de Nápoles, com a neblina a encobrir o Sol e o Vesúvio, me julguei por momentos no Havre do século XIX.




Nápoles (Itália), Setembro de 2016

Recordações da Casa Azul


Avis, Novembro de 2016





Gosto de casas habitadas, seja por estátuas que se exibem lá no alto (as minhas musas: 1, 2, 3, 4, 5, 6) seja por carantonhas que escarnecem de nós. E gosto muito da Casa Azul de Avis, que não sei como se chama, mas gosto de lhe chamar assim. As estátuas, já há muito me tinham chamado a atenção (pelo menos, desde aqui), mas só da última vez reparei neste pormenor do telhado:





Este foi tirado da lateral direita, mas repete-se em todos os ângulos do telhado. Há lá coisa mais linda?