#TBT: Itália 2006


Nos Alpes franceses, na região de Chamonix, com vista para a Itália, Dezembro de 2006

Em 2006, não fui à Itália, pois não, mas veio a Itália até mim. A ver se me consigo explicar, porque este apresenta-se como um problema filosófico de difícil resolução: poderei dizer que estive num lugar que só os olhos alcançaram? O que será preciso para considerar que se esteve nalgum lugar: um intervalo de tempo mínimo de permanência? E permanência de quê, dos pés, dos olhos, do corpo todo? E se o corpo lá esteve, mas os pés não tocaram o chão? Tudo questões ociosas que se põem quando é necessário definir as regras do jogo.
Por exemplo, quando há pernoita, não há dúvida, mas e se a permanência for mais curta? Digo e afirmo que estive na Holanda, apesar de só ter passado uma tarde em Amesterdão: usei transportes públicos, passeei pelas ruas, quase fui abalroada por bicicletas desvairadas, visitei um museu, tirei fotografias, comi um gelado à beira de um canal -- acho que já vale alguma coisa. Em relação à Bélgica, tenho mais pudor em dizer que lá estive: apanhei o comboio, atravessei umas ruas perdidas na zona Sul de Bruxelas, comi qualquer coisa num kebab e voltei para o aeroporto -- não posso dizer que tenha sido uma experiência enriquecedora. Menos ainda o foi na Bósnia-Herzegovina, onde o autocarro parou, no caminho para Dubrovnik, num café de beira de estrada, perto de Neum: saí para esticar as pernas, usei a casa de banho e tirei duas fotografias -- alguma coisa de mim lá ficou, mas ficou muito pouco daquele país em mim.
E já nem falo, nem me lembro, dos países que vislumbrei das janelas dos aviões (muita Rússia, entre Paris e Ósaca), nem da Eslováquia que contemplei do barco que cruzava o Danúbio, entre Viena e Budapeste, e depois novamente da janela do comboio nocturno entre Budapeste e Praga.
Enfim, guardo uma memória muito clara (e fotográfica) de algumas zonas de fronteiras que não cheguei a atravessar, que só contemplei do lado de cá, com muita pena minha (detesto perder uma oportunidade de alargar a colecção).
Em Dezembro de 2006, fui passar uns dias (e o ano) a Chamonix, e foi numa das subidas, algures entre a Aiguille du Midi e as Grandes Jorasses que nos disseram que, ali à frente, já era a Itália. Os cabos que víamos eram os do teleférico que, no Verão, fazia a travessia, mas estava parado no Inverno, por causa do perigo de avalanches. Retive o olhar um pouco, tirei umas fotografias e foi essa a minha primeira experiência italiana.


Nos Alpes franceses, na região de Chamonix, com vista para a Itália, Dezembro de 2006

Dois meses depois, em visita de trabalho à Roménia, os nossos colegas locais levaram-nos a conhecer a região de Maramureș e, a certa altura da viagem de autocarro, disseram-nos que as montanhas que víamos, depois daqueles renques de árvores, ficavam já na Ucrânia:


Na região de Maramureș, a caminho de Săpânța (Roménia), com vista para a Ucrânia,
Fevereiro de 2007


Em Dezembro de 2005, noutra viagem de trabalho, à Irlanda do Norte, as nossas colegas quiseram mostrar-nos as belezas da costa de Antrim, e parando a certa altura, apontaram para uma nesga escura que se destacava entre o mar e as nuvens e disseram-nos que era a Escócia, que se podia ver muito melhor em dias claros:




Na região de Antrim, perto de Cushendall (Irlanda do Norte, Reino Unido),
com vista para a Escócia, Dezembro de 2005


Não foram lá grandes experiências, pois não, mas serviram para abrir o apetite. A Itália já vai estando; os outros se verá, com o tempo.

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