Histórias de Hakone
Hakone (Prefeitura de Kanagawa, Japão), Agosto de 2004
Após quatro dias em Tóquio, fomos passar outros quatro a Hakone, terra de montanhas e águas termais. Foi a última vez que ficámos num ryokan, mas moderno e funcional, um compromisso entre hotel e estalagem tradicional, perto da estação de Hakone-Yumoto. A roupa de cama estava incluída no preço do quarto, mas as toalhas eram adquiridas numa máquina de venda automática. Ainda tenho a minha: serviu-me para o duche, que nem os onsen de Hakone me conseguiram seduzir para as prometidas delícias dos banhos japoneses. Nada a fazer, a simples ideia daquele ritual fazia-me fugir:
(imagem daqui)
Porém, foi em Hakone que nos estreámos no sushi. Até aí, e já a viagem ia a meio, a nossa dieta consistia em donburi, com diferentes coberturas, é verdade, mas quase sempre aquelas malgas de arroz, que intercalávamos com refeições de massa. Apostámos, desde o início, em seguir e imitar os locais, à hora das refeições. Um dia, em Tóquio, esperámos que os funcionários das empresas de Ginza saíssem para o almoço e fomos atrás de um grupo até um pequeno e discreto restaurante de massas, fresquíssimas e saborosas, confeccionadas mesmo à nossa frente. O único senão dos restaurantes de massas era ter de ouvir o ruído ensurdecedor e confrangedor dos clientes a sorverem a massa (o que não diria a minha mãe, se ali estivesse!). Ainda hoje não percebo por que é que as massas eram servidas com um pequeno bule de água de cozedura, ainda fervente (daí a necessidade da sorvedura).
Na verdade, nunca vimos nenhum japonês comer sushi, mas, em Hakone, quisemos provar. Para o meu gosto, tinha demasiado wasabi e um sabor muito forte, pelo que não fiz questão de repetir a experiência. Gostar, gostar, gostei dos doces, sobretudo de daifuku, e de tudo o que tivesse recheio de pasta de feijão, e dos gelados, com cores e sabores exóticos: o verde de chá, o cinzento de sésamo, o castanho de feijão-azuqui. Para refrescar, nos dias mais quentes, nada como kakigōri, sobretudo com cobertura de chá verde.
Finalmente, ao fim de duas semanas, os nossos estômagos amotinaram-se: a simples visão das amostras de donburi começou a causar-nos náuseas. Ora, nessa altura, tínhamos tirado o Hakone Free Pass, que nos permitia circular à vontade nos transportes públicos da zona, pelo que decidimos ir até à cidade mais próxima, Odawara, à procura de comida mais ocidental. Não conseguimos encontrar grande coisa, mas, de repente, lembrei-me de que tinha vislumbrado, da janela do comboio, um grande M amarelo, no cimo de um edifício. Assim, corremos as ruas, de cabeça no ar, à procura do dito. Como não o conseguíamos encontrar, perguntámos a uma senhora que estava a fechar a loja, mas ela não parecia perceber-nos. Repetimos, mais devagar, e fez-se luz: "Ah, Makudonarudo!" Como estava muito ocupada, não nos pôde acompanhar (ainda hei-de falar sobre a disponibilidade dos japoneses para ajudarem turistas desorientadas), mas indicou-nos o caminho, que haveríamos de fazer dois dias seguidos, até o motim terminar, ao fim de quatro refeições de Teriyaki McBurger.
Em Hakone, o tempo começou a piorar, mas nem os chuviscos nos impediram de fazer vários passeios, de que ainda hei-de falar. Numa voltinha ao serão, encontrei este delicioso sinal de informação rodoviária, suspenso sobre uma estrada de montanha:
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