#TBT: Belém, 2005


Belém, Lisboa, Março de 2005

Tenho uma tia que viveu muitos anos na Ajuda, com o marido e a filha. Tive um tio que viveu vários anos em Angola, onde morreu, e de onde a mulher e os três filhos tiveram de retornar, nos anos 70. A bem dizer, o meu primo mais novo não retornou a lado nenhum, que ele nasceu em Luanda e nunca mais lá voltou. Vieram os quatro, não se pode dizer que de mãos a abanar, porque traziam um cãozinho, uma boneca e um bebé, nem sei bem quem carregava quem ao colo, mas não sobravam muitas mãos para segurarem malas. E foi assim que desembarcaram, acho até que em Alcântara, que ficava bem perto da Ajuda, onde a minha tia sempre teve as portas abertas para ajudar os parentes que dela precisavam, e não havia de deixar estes sem auxílio. Em boa hora chegaram, que tinha vagado uma casa lá na rua, ao chegar à Boa Hora, e a minha tia conseguiu instalá-los à sua beira, para melhor lhes ir valendo. É que até se viam uns aos outros da janela, e conversavam de um lado para o outro da rua, a minha tia no 3.º andar, os meus primos no rés-do-chão em frente. Era uma rua bem castiça.



E assim se tornou a Ajuda o segundo pólo da minha vida familiar, a par com a Amadora. Visitas de fim-de-semana, festas de aniversário, comemorações de Páscoa, Natal e Ano Novo faziam a família deslocar-se entre as diferentes casas das duas localidades. E o que eu gostava de ir à Ajuda! Até porque era a forma mais garantida de me encontrar com os meus primos mais novos, que os outros, sendo muitos, eram mais velhos, com outros interesses, espalhados pelo país e pelo mundo, uma geração de diferença. Éramos cinco, os mais novos: uma escadinha de garotos com intervalos de dois anos, o mais velho, já espigadote, o nosso ídolo, e o mais novo, ainda miúdo, sempre atrás dos crescidos. Eu era a do meio.







De entre as diversas actividades com que nos podíamos entreter, eu gostava particularmente das ocasiões em que um dos tios se propunha a descer connosco até Belém, onde havia tudo aquilo de que precisávamos para sermos felizes: rio, barcos, relvados, muito espaço para correr. Adorávamos jogar às escondidas por entre as pernas dos navegadores do Padrão dos Descobrimentos: o mais velho, corajoso, subia até ao Infante, enquanto nós nos ficávamos por figuras mais modestas. A última vez que lá estive, reparei que vedaram o acesso aos descobridores: uma aventura para a qual as gerações mais bem preparadas de sempre nunca se vão poder preparar. A segurança infantil tem o seu preço.


Belém, Lisboa, Agosto de 2005

Ainda hoje, Belém é uma das zonas de Lisboa onde mais gosto de passear, e foi a primeira que fotografei com a minha primeira câmara digital. Abri o álbum e lá estava tudo, o mesmo de sempre, sem surpresas: o rio, o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém (onde, curiosamente, nunca entrei), o farol a brincar, o Mosteiro dos Jerónimos, os jardins da Praça do Império.





De interesse mais recente, o Centro Cultural de Belém, com cujas linhas arquitectónicas sempre simpatizei.








Belém, Lisboa, Março de 2005

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