#TBT: Jardim Zoológico de Lisboa, 2006


Jardim Zoológico de Lisboa, Maio de 2006

Gosto de jardins zoológicos, acho que um bom espectáculo de circo tem de ter animais e gosto de animais. E não encontro contradição entre os três termos. Cada um é como cada qual, e eu não acho que um bom zoo ou um circo de excelência tenham de representar uma degradação da qualidade de vida ou da dignidade dos animais maior do que uma existência confinada a um apartamento. Não morro de amores por canis públicos e não nutro ideias líricas sobre uma eficaz protecção dos animais no seu meio ambiente. É como em tudo, há casos e casos: um rinoceronte que vive os últimos dias da sua vida e da sua espécie rodeado por guardas armados, 24 horas por dia, não me parece um bom exemplo de liberdade. O Antropoceno encarregou-se de promover a degradação da maior parte dos habitats naturais, muitos dos quais não servem hoje nem para os seres humanos. No fim de contas, um jardim zoológico é, muitas vezes, um mal menor.







Durante toda a minha infância, tínhamos como rotina anual uma visita ao Jardim Zoológico de Lisboa, rotina essa que quebrei, como seria de esperar, na adolescência. Regressei já adulta e, desde então, vou lá todos os anos, ou quase. Por essa razão, fui acompanhando a evolução na sua concepção. Ainda me lembro do gorila, aos gritos, enlouquecido entre grades; do último orangotango, solitário e deprimido, numa gaiola interior; da Tenda do Faustino, que, como a Aldeia dos Macacos, reproduzia um ambiente humano, para gáudio da pequenada, mas não necessariamente dos símios; da gaiola decorativa do corvo Vicente, símbolo da cidade; do cheiro das jaulas dos tigres. Sobretudo, muito cimento e grades, e animais em exposição.







A partir de 1990, o Jardim Zoológico adaptou-se à nova filosofia vigente em espaços congéneres, a que passou a estar associado, em rede: enriquecimento ambiental para as instalações dos animais, intervenção pedagógica junto dos visitantes, investigação e conservação das espécies. Aos poucos, a vegetação tomou o lugar do cimento, e o vidro e fossos com água, o das grades. Os animais passaram a poder esconder-se dos olhares indesejados, a ter espaços mais amplos, com zonas diversificadas e, sobretudo, companhia (e, na maior parte das vezes, família). O mais fascinante foi perceber que várias espécies (sobretudo, aves) deixaram de viver aprisionadas, simplesmente porque perderam a vontade de fugir. Por exemplo, os pelicanos, cujos exemplares mais antigos têm ainda as asas mutiladas, para os impedir de voar, têm hoje essa capacidade, mas não abandonam as instalações; os pavões, há muito que circulam em liberdade (e nem estão já listados entre as espécies acolhidas).





Não é o jardim do Éden, pois não, nem é melhor que a savana ou uma floresta virgem, mas é um espaço em que os animais, aparentemente, se sentem bem e seguros. E, para os visitantes, é um lugar de aprendizagem e de exploração (muitos animais são mais difíceis de encontrar do que o Wally).





A renovação continua, e é raro o ano em que não há novidades. Este Verão, senti, sobretudo, a falta do Tio Pelicas, o pelicano ancião que sucumbiu aos seus provectos 29 anos. Em comparação com a visita de 2006, cujas memórias reavivei, é a ausência do urso-negro-asiático a que mais tenho notado, mas regressaram os grandes primatas, agora com excelentes instalações que, em dias de muito calor, até fazem inveja aos macacos nus. Em 2006, ainda não havia, no Zoo, linces-ibéricos (que raramente se deixam ver), na tapada que, em tempos, foi ocupada por lobos. Por outro lado, podíamos entrar no Parque Arco-Íris e interagir com as aves, o que tem estado vedado nos últimos anos. A Baía dos Golfinhos estava, na altura, reduzida à Casa da Lagoa, onde se realizavam os espectáculos. Por acaso, este ano, também dei pela falta do treinador mais velho (à esquerda, na imagem), que não participou no espectáculo e se remeteu aos bastidores.

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