Igreja de São Domingos (2)
Viana do Castelo, Agosto de 2022
A Igreja de São Domingos é também conhecida como Igreja de Santa Cruz do Convento de São Domingos, porque o convento dominicano foi inicialmente denominado de Convento de Santa Cruz pelo seu fundador, Frei Bartolomeu dos Mártires.
Nascido em Lisboa, em 1514, D. Frei Bartolomeu dos Mártires foi Arcebispo de Braga, entre 1559 e 1582, e reivindicou o título de Primaz das Espanhas. Foi um influente doutor da Igreja e teve uma importante participação no Concílio de Trento. Passou os últimos anos da sua vida no convento vianense, onde morreu, em 1590, e está sepultado na capela-mor da igreja. Foi beatificado em 2001, pelo Papa João Paulo II, e canonizado em 2019, pelo Papa Francisco. Em 2008, a Câmara Municipal de Viana do Castelo erigiu-lhe uma estátua, no Largo de São Domingos, em frente à Igreja.
A Igreja de S. Domingos foi construída entre 1566 e 1576, sob risco do dominicano Frei Julião Romero, o mesmo que já traçara a Igreja de São Gonçalo de Amarante. A fachada é maneirista, da ordem monumental, mas o interior cripto-colateral é de estilo jónico, de grande sobriedade, que foi compensada por uma grande riqueza de talha dourada, a partir de 1618. De entre os altares, assumem destaque o grandioso retábulo do braço norte do transepto, em "talha gorda", entalhado pelo mestre bracarense José Álvares de Araújo, a partir do desenho encomendado pela confraria do Rosário, em 1760, ao mestre André Soares, e que recebeu do prestigiado especialista Robert Smith a classificação de "obra-prima do estilo rocaille de toda a Europa"; mas também o retábulo do Sagrado Coração de Jesus, em estilo nacional, proveniente da demolida Igreja de Monserrate, o retábulo da capela de Nossa Senhora dos Mares (1618) e o do altar-mor, com elevada tribuna.
A igreja constituiu paradigma das origens do chamado estilo chão, marcado pela austeridade e sobriedade das formas. Possui planta composta por uma nave em cruz latina, com capelas laterais intercomunicantes, separadas por arcaria da ordem jónica, e capela-mor rectangular, com cobertura de madeira. Apresenta fachada principal tipo retábulo, maneirista, com grandes semelhanças com o pórtico lateral do Convento de São Gonçalo de Amarante, também do arquitecto Frei Julião Romero, cujas fachadas têm como característica a confluência de elementos decorativos renascentistas com modelos compósitos de tratadística mais tardia. Na igreja de Viana, as colunas, entablamentos, nichos e a sua coroação são de modelo mais antigo que a composição geral do retábulo de pedra. No interior, os retábulos têm talha maneirista, barroca e rococó, sendo o da capela-mor em barroco nacional. Destacam-se o retábulo da capela de Nossa Senhora dos Mares, onde o entalhador abandonou as altas proporções maneiristas e imitou a fachada de uma igreja contemporânea; e o grande e rico retábulo de Nossa Senhora do Rosário, no braço do transepto, do arquitecto André Soares da Silva e executado por José Álvares de Araújo, em "talha gorda" típica do Alto Minho, em estilo rococó, mostrando influências das capelas do Rosário das igrejas dominicanas espanholas.
Está classificada como Monumento Nacional, desde 1910. Em 17 de Junho de 2020, a Conferência Episcopal Portuguesa aprovou a sua classificação como Basílica menor. Em 2021, a ala de Nossa Senhora do Rosário começou a ser recuperada para acolher o Centro de Interpretação de São Bartolomeu dos Mártires.
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