Pelos caminhos da Transilvânia


Perto da fronteira com a Hungria, Maramureș (Roménia), Fevereiro de 2007

De Debrecen até à fronteira húngaro-romena são cerca de 30 km, menos de meia hora, mas, assim que a atravessámos para o país vizinho, notámos uma diferença enorme, tanto no estado de conservação das estradas como em quem as frequentava. A Roménia tinha aderido à União Europeia havia pouco mais de um mês, e ainda não se viam mudanças relevantes.
Na estrada, começámos a cruzar-nos com carroças puxadas por cavalos, que era, aparentemente, o meio de transporte mais habitual em meio rural.
Quando, dois dias depois, os nossos colegas nos levaram a dar um passeio pelas redondezas, pudemos reviver algumas das características do Portugal rural que ficaram perdidas na memória dos tempos pré-CEE: carroças de estrume e feno, aldeias de caminhos enlameados, mulheres de lenço na cabeça e uma pobreza digna, mas nem por isso menos pobre.












Budești (Maramureș, Roménia), Fevereiro de 2007

Dez anos depois, muito deve já ter mudado. Os cavalos que puxavam as carroças, quando os novos hábitos europeus as tornaram obsoletas, dizia há tempos um mito urbano que acabaram nos nossos hambúrgueres e bolonhesas congeladas. E os Dacia antigos, que eram, em 2007, os automóveis mais populares, devem ter sido remetidos para algum museu.
De resto, muitos símbolos religiosos; construções de madeira, sobretudo portões muito bonitos; soluções pragmáticas e muito ecológicas, como a máquina de lavar roupa manual que usava o fluxo de água dos canais de irrigação; árvores de panelas e alguidares de plástico, a assinalar as casas onde havia raparigas casadoiras. E a silhueta dos Cárpatos, omnipresente, a sobressair por sobre as árvores despidas e os campos nevados.






(Foto gentilmente cedida pelo meu colega Szymon)








Maramureș (Roménia), Fevereiro de 2007

Quanto à Transilvânia, afiançam-nos as enciclopédias que passa por ali, apesar de os nossos colegas nos terem garantido que não, que a região de Maramureș tem uma identidade muito própria, que não se compadece com histórias de vampiros, e que a simples sugestão até os ofende, pelo que não insistimos. E depois levaram-nos a almoçar num restaurante à beira da estrada, junto à fronteira com a Ucrânia: um ambiente familiar, comida típica caseira, tudo regado com aquela aguardente de ameixa, muito forte, que eles lá têm e a que chamam já nem sei se palincă, horincă ou țuica. Só me lembro que nos faziam deitar abaixo copo após copo, ao som de "Noroc!", e às tantas tive de vir cá para fora, apanhar ar fresco e rezar para que se esquecessem de mim, enquanto os ouvia cantar e dançar, os meus colegas e a patroa, ainda de avental e tudo.

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